Efeito Repiquete: o perigo da 2ª Onda – por Francimar Pontes Soares

A população corre o risco de uma segunda onda do Covid muito mais forte que a atual - foto: divulgação

Repiquete é um fenômeno que acontece quando o nível das águas sobe devido às chuvas temporãs caírem nas “cabeceiras” dos rios.


Ocorre, geralmente, no fim do período de vazante e pode ser confundido com o início do período de cheias. É conhecido também como efeito sanfona, porque as águas que estavam em processo de vazante voltam a subir repentinamente, causando enchentes, que por sua vez causam grandes estragos em muitas cidades ribeirinhas, antes de voltar a baixar.

Alguns pescadores contam que nesse período o rio fica triste. Há um estranho silêncio nos lagos, não se vê os costumeiros “banzeiros”, e os peixes param de comer. Torna-se inapropriado para a pesca esportiva.
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Evoco a figura do repiquete para alertar as autoridades locais e o povo em geral sobre o perigo que corremos com a retomada das atividades comerciais, industriais e eclesiásticas, sem que a pandemia do coronavírus tenha sido, de fato, vencida. Os hospitais estão ficando calmos e silenciosos, graças a Deus e ao trabalho árduo dos profissionais de saúde. Já não se vê os banzeiros formados pelas multidões desesperadas em busca de socorro.

Os números de sepultamento estão gradativa e sucessivamente em vazante. Entretanto, as chuvas das aglomerações sociais são visíveis nas cabeceiras. O povo não está respeitando a quarentena como esperado. Temos engarrafamentos e aglomerações, antes mesmo do fim do distanciamento social.

O comércio que perdeu seu faturamento, por certo, voltará a todo vapor oferecendo as irresistíveis promoções. As igrejas voltarão a funcionar dentro dos critérios estipulados, acredita-se. Mas existe um perigo real de se tornarem verdadeiras bombas biológicas. Isso me faz pensar: será que temos condições de controlar e fiscalizar tudo isso?
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Faz-se necessário lembrar e conscientizar a população sobre os danos emocionais e prejuízos irrecuperáveis que esse vírus assassino e ladrão, causou e ainda está causando em todo planeta. Mesmo que os números de mortos tenham reduzido, uma família que perde seu ente querido sofre a dor com a mesma intensidade de uma multidão. A estatística tem uma conotação diferente para os enlutados. É mais que um número, pois é menos um membro que não é mais. Uma mãe que perde o filho querido não está interessada se o número de mortes diminuiu e quantos se recuperaram. Seu desejo é um somente: ter o filho de volta. E isso, nenhum decreto humano pode resolver. É inútil tentar.

Será que esquecemos que ainda não existe uma vacina disponível? Alguém, porventura, consultou os profissionais da área de saúde, que se encontram exaustos devida a prolongada pressão psicológica e pelos intermináveis turnos de trabalho em favor da vida? Não seria prudente deixá-los descansar um pouco mais? Estamos realmente preparados e aparelhados para enfrentar uma possível “recaída”? Ainda nem nos recuperamos dos terríveis efeitos da primeira onda, e já nos achamos capazes de enfrentar uma segunda?

Não seria mais prudente, e proveitoso para todos, aproveitarmos esse momento favorável para socorrer os irmãos feridos do interior? Sinceramente, acredito que haja precipitação da nossa parte. Estamos tão ansiosos para voltar as atividades normais da vida, que nos esquecemos que o normal, nesses dias, é ter vida.
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Espero estar completamente enganado. É desejo do meu coração que tudo volte ao “normal”, e que retomemos as nossas vidas o mais breve possível. No entanto, os gráficos e os números não estão em harmonia com a ansiedade da população, o povo não vê a hora de sair de casa.

Há apreensão por parte dos epidemiologistas e das equipes médicas. Eles sabem que podemos estar cometendo um erro que poderá nos custar um preço muito mais caro do que já pagamos. O perigo ainda está à espreita. Não tem barulho nem banzeiros. Os peixes não estão comendo.

O silêncio e a calmaria podem ser enganosos. Parece que a vazante ainda não terminou, e o período de cheias ainda não começou. O amazônico conhece bem esse macete. Não é o momento de voltar a pescar. Pode ter repiquete.

*Francimar Pontes Soares é Pastor da Igreja Batista Liberdade Central.

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