
A decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que decidiu que 120 famílias que foram vítimas do desabamento do Edifício Palace II vão dividir uma indenização de cerca de R$ 30 milhões deixou os antigos moradores do prédio felizes, mas a disputa continua. A defesa das vítimas busca receber ainda R$ 150 milhões em indenizações em outros processos que tramitam na Justiça.
Segundo Rauliette Barbosa, que vivia no edifício, muitas pessoas que viviam no local ainda encontram dificuldades para reconstruir a vida.
“Eu fiquei muito feliz. Não só eu, mas todos os moradores. Todo mundo chorando, alegre, feliz. Tem gente com muita dificuldade, passando problemas sérios com a vida e sem poder recomeçar. Mesmo depois de 24 anos, ainda tem muita gente sofrendo”, afirmou Rauliette.

Atualmente, um outro prédio ocupa o lugar onde esteve o Palace II, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Os sinais da tragédia que aconteceu no lugar não estão visíveis. Mesmo assim, o coronel aposentado do Corpo de Bombeiros Marcos Aurélio da Silva não gosta de ir ao local onde ficava o apartamento onde vivia com a família, no sétimo andar do edifício.
“É a segunda ou terceira vez que eu volto aqui. Não me faz bem. Isso mexeu muito comigo e com a minha família. Eu perdi tudo. Não morri pela bondade divina. Isso só me dá lembranças ruins”, disse Marcos Aurélio.
Ele ajudou a evacuar o prédio antes do desabamento. Com a decisão, ele busca manter a esperança.
“Agora vou poder dizer que está solucionando. O braço da Justiça é longo, tarda mas não falha”, destacou o bombeiro aposentado.

Indenização
As famílias que viviam no prédio só receberam, até hoje, uma parte da indenização, cerca de 40%. Vinte e quatro anos depois do desabamento, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que elas vão dividir uma indenização de cerca de R$ 30 milhões.
O dinheiro vem da venda de um terreno em Brasília, leiloado em 2017, que pertencia a uma das empresas de Sérgio Naya.
Depois da decisão do STJ, o processo volta ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). O dinheiro não será entregue imediatamente. Um perito contador vai dividir o valor proporcionalmente para as 120 famílias. Fora isso, ainda há processos tramitando na Justiça. A defesa das vítimas busca receber cerca de R$ 150 milhões em indenizações.
“Em 24 anos, nós conseguimos apenas fazer nove leilões. Ele tem muito patrimônio ainda. Nós continuamos a luta. Não vamos parar aqui”, afirmou Eduardo Lutz, advogado das famílias das vítimas.
O desabamento
Parte do Palace II desabou no domingo de carnaval de 1998, destruindo 44 apartamentos. A maioria dos moradores já tinha saído de casa, mas alguns voltaram para pegar objetos pessoais e foram surpreendidos pelo desabamento dos imóveis. Oito pessoas morreram soterradas e 120 famílias ficaram desabrigadas. Dias depois, os 22 andares do prédio foram implodidos e foram para o chão.
As investigações mostraram que o edifício, construído pela empresa de engenharia Sersan, tinha graves defeitos de estrutura e acabamento. O laudo da perícia indicou o uso de materiais de construção de baixa qualidade e falha no detalhamento da armação de dois pilares.
O dono da construtora, Sérgio Naya, foi condenado a indenizar as famílias e teve os bens bloqueados. Ele morreu em 2009, sem cumprir as exigências da Justiça. Os inventariantes responsáveis pelo espólio também entraram com vários recursos na Justiça para adiar os pagamentos.

O RJ1 procurou o advogado que representa os inventariantes do espólio de Sérgio Naya, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.
g1