Filhos de haitianos são alfabetizados e ajudam pais a falar português, em Manaus

Filhos de haitianos alfabetizados, em Manaus/Foto: Terra
Filhos de haitianos alfabetizados, em Manaus/Foto: Terra
Filhos de haitianos alfabetizados, em Manaus/Foto: Terra

Quem chega na escola municipal Waldir Garcia, no bairro de São Geraldo, na zona centro-oeste de Manaus, logo percebe alguns alunos falando um português arrastado e carregado de um sotaque que lembra o idioma francês. São haitianos, filhos dos refugiados que adotaram Manaus como novo lar.

Aqui os pais dessas crianças encontraram trabalho para recomeçar a vida, enquanto seus filhos encontraram, na escola, uma oportunidade de alfabetização, de fazer novos amigos e ainda, de quebra, ajudar os pais a aprender a nova língua.


Tudo começou há mais ou menos um ano, quando representantes dos governos estadual e municipal se reuniram com membros da igreja católica e decidiram avançar no apoio às famílias de haitianos residentes em Manaus. “Vimos que além de oportunidade de trabalho para os pais, precisávamos inserir os filhos desses haitianos nas escolas. Isso daria tranquilidade para esses pais”, lembra Lídia Mendes de Oliveira, coordenadora de diversidade da Secretaria Municipal de Educação (Semed).

Não demorou muito e as primeiras crianças passaram a frequentar a sala de aula. Atualmente são 77 alunos estudando em 32 escolas da capital amazonense. A unidade educacional com mais estudantes haitianos é a escola Waldir Garcia, citada acima. Nela, atualmente, estão matriculadas 22 crianças com idades entre 6 e 12 anos. Todas no ensino fundamental.

“Toda semana recebemos novos alunos, filhos de haitianos. É um desafio para nós fazer essa integração com os outros alunos, mas, no fundo, essa interação ajuda no aprendizado”, explicou Lúcia Santos, diretora da escola.

Primeiras palavras
Nelson, de apenas 6 anos, é um exemplo desses novos alunos que não param de chegar. Há poucas semanas, ele foi acolhido na escola sem falar uma palavra em português. Hoje, o menino já balbucia e repete palavras como “bola”, “gelo”, “verde” e “amarelo”. “Cada progresso é motivo de comemoração pois eles chegam muito agitados, não falam muito, mas com o tempo se soltam e aprendem rápido”, comemorou a professora de alfabetização Ângela Maldonado.

Pop Joseph, de 7 anos, e Quen Albert, de 8, estão mais “soltos”. Alunos do segundo ano, eles já conseguem escrever as primeiras palavras em português. “Eu gosto de estudar aqui. Estou aprendendo o a,b,c”, disse, pausadamente, o pequeno Quen Albert.

Professores dos pais

A escola também tem alunos mais velhos, no quinto e sexto ano. Esses já ajudam os pais com o novo idioma. Um desses jovens é o adolescente David Elison, de 12 anos. Ele e os pais chegaram em Manaus há 9 meses. Nesse período, os pais aprenderam o básico da língua portuguesa, apenas o necessário para se comunicar. O aperfeiçoamento da fala e da escrita dos dois tem sido feito pelo filho. “Eu chego em casa e mostro para minha mãe o que aprendi. Aí ajudo ela a falar melhor o português”, contou Elison.

O Terra foi até a casa do garoto para observar um pouco dessa rotina. Nesse dia, somente a mãe dele, dona Guertine Jean Paul, de 43 anos, estava na kit-net que a família, de quatro pessoas, ocupa nos fundos de um sobrado, no bairro de São Jorge, na zona centro-oeste da capital amazonense.

Dona Guertine, um mulher de sorriso fácil, se divide entre o almoço que está no fogão e o filho que, com o caderno de aula em mão, tenta prestar atenção nas explicações de David. Após meia hora, o calor impede o aprendizado e a aula do filho para a mãe é interrompida. Mesmo assim, o resultado foi positivo. A dona de casa repete palavras que antes falava com a pronúncia errada. “Ele é um bom professor”, diz dona Guertine.(Terra)

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