Instituto Mamirauá realiza pesquisas na várzea amazônica

As várzeas são ambientes em constante transformação e que desafiam a ciência/Foto: Marcello Nicolato

Para entender o que acontece na ecologia da várzea na Amazônia, uma leitura é fundamental: “As matas de várzea do Mamirauá”, de autoria do biólogo José Márcio Ayres. Logo no início, esse autor, um dos fundadores da Reserva Mamirauá, cita Alfred Russel Wallace, um naturalista britânico, para descrever esse fascinante universo. Disse Wallace para o livro “Uma narrativa das viagens ao Amazonas e Rio Negro”: “De fato, os indígenas afirmam que as árvores que crescem no igapó, são distintas das encontradas em outros lugares, e quando consideramos as extraordinárias condições sob as quais estas plantas vivem, estando submersas por 6 meses do ano até estarem suficientemente altas para se erguer acima do nível d’ água mais alto, não parece improvável que este possa ser o caso”.


Um improvável, fascinante e extraordinário ambiente intriga pesquisadores que se dedicam a estuda-lo para criar estratégias de conservação, juntamente com as populações locais. É o caso dos pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Ecologia Florestal do Instituto Mamirauá. Desde 2013, essas pesquisas contam com o financiamento do Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Essas ações são desenvolvidas no âmbito do projeto “Mamirauá: Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade em Unidades de Conservação”, que contempla ainda iniciativas de manejo florestal comunitário, gestão comunitária e agricultura.

As várzeas são ambientes em constante transformação e que desafiam a ciência/Foto: Marcello Nicolato

As pesquisas relacionadas à Ecologia Florestal têm o objetivo de gerar informações sobre a estrutura, a composição florística e o potencial de estoque de carbono de cada ambiente. Abrange, ainda, o potencial de algumas espécies de interesse em sequestrar carbono ao longo do seu crescimento e a sua capacidade de estabelecimento e crescimento em áreas degradadas com diferentes condições físicas. Confira, a seguir, algumas dessas pesquisas:

Como a floresta muda?

Parte da equipe de Ecologia Florestal do Instituto Mamirauá em campo/Foto: Everson Tavares

O Instituto Mamirauá vem acompanhando também as mudanças que acontecem, ao longo dos anos, nas florestas de várzea. É um trabalho para entender essa dinâmica da floresta como explica a pesquisadora Tamara Felipim: “A nossa pesquisa visa compreender a dinâmica florestal nas áreas de várzea. Todos os anos, fazemos a medição das parcelas botânicas. Foram instaladas seis parcelas, em 2013, e mais seis, em 2016”. Em fevereiro deste ano, o grupo realizou mais uma expedição para monitoramento da floresta. Foi a terceira remedição das parcelas instaladas em 2013, em várzea alta, para fazer o recrutamento de novos indivíduos que alcançaram os 10 centímetros de diâmetro, identificação e coleta botânica. “Além disso, nós remedimos todos os indivíduos que já haviam sido selecionados nos anos anteriores e também esse ano a gente conseguiu medir a altura de várias árvores”, afirmou Tamara.

Tamara Felipim é pesquisadora do Instituto Mamirauá e investiga como mudam as florestas alagadas nessa parte da Amazônia/Foto: Everson Tavares

Segundo a pesquisadora, esse trabalho permite acompanhar realmente o que está acontecendo na floresta de várzea: “Os ambientes de várzea na Amazônia são muito pouco estudados em comparação com a terra firme. Então é importantíssimo que seja feito o monitoramento anual para acompanhar o que está acontecendo, a partir desse recrutamento, para entender a dinâmica da floresta”.

Monitorando o manejo florestal

O pesquisador Paulo do Nascimento estuda a dinâmica de florestas na Amazônia/Foto: Everson Tavares

A pesquisadora Sarah Magalhães é a responsável pelo estudo que avalia a sustentabilidade da exploração manejada de madeira feita por comunitários na Reserva Mamirauá. O acompanhamento é parte de uma pesquisa iniciada pelo Instituto Mamirauá em 2015. “Essa pesquisa é importante para avaliar como a vegetação se recupera após uma atividade de exploração de madeira. Com isso, a gente consegue entender como se dá o processo de regeneração com as florestas de várzea e avaliar a sustentabilidade dessa atividade”, explicou Sarah. Em campo, o trabalho da pesquisadora consiste em ir nas clareiras, que são espaços abertos dentro de uma floresta e que vão introduzir maior luminosidade ao ambiente e variações na humidade do solo e do ar. As clareiras podem ter sido geradas por causa natural ou abertas em consequência da exploração do manejo florestal comunitário, essa última é o alvo da pesquisa. “Nós acompanhamos os indivíduos que se estabelecem na área da clareira, muito provavelmente os que estavam ao redor da árvore explorada morreram junto com a queda dela, então eu acompanho os que já estavam ali no ambiente mas não necessariamente ao redor da árvore e também acompanho os novos que surgem devido à nova condição ambiental”, informou Sarah.

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