Lula assume e os golpistas terão que levantar acampamento – por Moisés Mendes

Luiz Inácio Lula da Silva e Palácio do Planalto, onde fica o gabinete da Presidência da República - foto: recorte

“O golpismo terá de desmontar a barraca, por conta própria ou por ação coercitiva do Estado. Agora, chega”, escreve o colunista Moisés Mendes


O Brasil terá novo governo a partir de 1º de janeiro. As Forças Armadas terão novos comandos. Espera-se que as instituições tenham novo ânimo para fazer o que deve ser feito.

Com novo governo, novos comandos na Defesa e nas três armas e o resgate do brio das autoridades, pergunta-se: o presidente, os militares e o sistema de Justiça continuarão sendo afrontados pelas arruaças de golpistas e bandidos nas estradas e na frente dos quartéis?

A resposta não poderá ser retórica. A maioria dos brasileiros não vai aceitar, sob quaisquer desculpas, que o novo governo seja desafiado por criminosos depois da posse de Lula.

Os militares não podem aceitar. E algumas autoridades ainda assustadas, segundo avaliação recente de Gilmar Mendes, terão de reagir.

Ministério Público e Judiciário já tiveram tempo suficiente para se recompor, depois de quatro anos de encolhimento diante da imposição do fascismo.

Lula venceu e será empossado. Só parte da extrema direita mais atrevida e ingênua imagina que os cenários pós-eleição serão mantidos em rodovias e diante de quartéis depois da posse de Lula.

A outra parte da extrema direita, a que orienta o golpe, que financia e que incita os patriotas sabe que, depois de janeiro, os riscos serão maiores.

E que só os atrevidos mais imbecis continuarão nas ruas, enquanto os líderes e financiadores estarão na retaguarda, bem protegidos.

A jornalista Luciana Bugni mostrou no UOL o que são os acampamentos patrióticos, a partir do que acontece na aglomeração formada no bairro de Santana, zona Norte de São Paulo, diante de um quartel.

Os patriotas têm suas necessidades supridas por gente em “carros de luxo, como Mercedes, BMWs e motos Harley-Davidson que param por ali de tempos em tempos para descarregar comida”.

Cumprem suas tarefas de entregadores de luxo do ifood da extrema direita e vão embora. Os soldados do golpe que fiquem.

Luciana mostra o inferno em que transformaram a região. Defecam e urinam na rua. Cantam e gritam “socorro”, “SOS” e “salvem nosso Brasil”.

A polícia é solidária e passa buzinando. É uma paisagem que precisa ser desfeita, para que não se assemelhe logo à de uma cracolândia.

Tem bagunça durante todo o dia e noite adentro. A vizinhança não aguenta. O comércio teve queda de 60% nas vendas. A pista para os ônibus foi bloqueada.

Há gente armada. A jornalista conta que foram vistos manifestantes com barras de ferro e estilingues com bolas de gude.

O clima é de violência e de sensação de impunidade. Com poucas diferenças, é assim no resto do Brasil.

Ninguém enfrenta os patriotas urbanos, porque eles têm um poder que os caminhoneiros não têm. Os acampados e seus financiadores têm a imunidade que Claudia Kummer, a Sara Winter do Pará, não tem.

Claudia foi atiçadora de bloqueios nas estradas. É considerada foragida e caçada pela Polícia Federal. Por que Claudia Kummer é perigosa?

Por que não são um dos tantos empresários que incitaram ações, sem medo de nada, e foram filmados pregando o golpe?

Os golpistas das cidades têm a proteção dos quartéis e de gente de dinheiro, para muito além da turma descrita pela jornalista do UOL como os bacanas das Mercedes, BMWs e Harley-Davidson.

Com esses ninguém se mete, mesmo que as polícias já devessem ter desbloqueado as ruas, se cumprissem as ordens de Alexandre de Moraes.

Vai continuar assim? Se o novo governo, os novos comandos militares, o Supremo e o Ministério Público forem desafiados pela turba na quarta-feira da posse de Lula, o que acontecerá na quinta-feira?

A resposta não poderá ser dada por gente sem brio. O golpismo terá de desmontar a barraca, por conta própria ou por ação coercitiva do Estado. Agora, chega.

Por Moisés Mendes, para o 247

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

 

 

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