Mais uma para o FEBEAPÁ*

Luiz Lauschner Escritor e empresário

Muitas vezes me pergunto por que os vereadores têm verba de gabinete se não a usam para uma assessoria mais apurada. A mais nova lista do FEBEAPÁ é um projeto de lei de um vereador do PT de Manaus que pretende proibir a venda de bebidas alcoólicas nas chamadas lojas de conveniência junto aos postos de gasolina. Nem vamos falar de outras leis que já restringem a venda de bebidas alcoólicas. Um amigo já me alertou que o projeto é mais um balão de ensaio para desviar a atenção dos escândalos que o partido daquele vereador promove no Brasil todo.


A desculpa é sempre o mais nobre de todas: impedir que motoristas bebam e dirijam. Como se isso fosse culpa da loja de conveniência que, arrisca-se a manter as portas abertas durante a noite justamente para atender aqueles que perderam a hora do supermercado. Em vez de incentivar a estes comerciantes que, no final ajudam a pagar os custos altíssimos do vereador e seus pares, tentam proibir o comércio legítimo. A fiscalização do trânsito é da competência do Detran e não da Câmara de Vereadores. Proibir a venda de bebida na loja de conveniência para impedir ao motorista de beber é o mesmo que impedir a venda de sandálias porque algumas mães as usam para dar chineladas nos filhos.

Houve recentemente um acidente com várias vítimas fatais porque o motorista estava embriagado. Acidentes como esse justificaram a criação da lei seca. Segundo esta lei, quem bebeu uma latinha de cerveja está sob o efeito do álcool e, portanto não deve dirigir. Não há ninguém que defenda o uso de bebida alcoólica por motoristas no exercício da função. Porém, assim como a mãe que desobedece a lei quando bate com sandálias em seu filho, quem bebe e dirige deve ser punido (quando não já o foi com a morte no trânsito). O que leis idiotas tentam fazer é jogar a responsabilidade sobre o estabelecimento que vendeu a sandália e não sobre o Estado que não impediu a mãe de bater ou ao motorista de dirigir.

Nas altas esferas nacionais podem ser criadas leis mais simples que evitariam até mesmo a fiscalização. Já há carros com sensores, que simplesmente não funcionam se o cinto não estiver afivelado. Quem tem cinquenta anos ou mais jamais imaginaria que carros populares chegariam a ter condicionador de ar, direção hidráulica ou mesmo câmbio automático. Se quiserem criar leis de segurança, porque não obrigar as montadoras a instalar um bafômetro? O carro simplesmente não funcionaria se o motorista exalasse álcool. Claro que isso seria fruto de negociações que poderiam receber o apoio de vereadores, mas forçosamente, teriam de acontecer em outro nível.

Infelizmente, os donos das lojas de conveniência não são legisladores. Se um dia chegarem a ser, provavelmente iriam criar leis que obrigassem aos legisladores de hoje a usar bom-senso. Existem pessoas, e são muitas, que sobrevivem de seu trabalho árduo. Aqueles que trabalham em lojas de conveniência também fazem parte deste grupo. Em algum momento devem ter até cometido o deslize de votar naquilo que acreditavam ser o partido que os representasse.

Quero me irmanar com os trabalhadores, tanto os que empregam como os empregados, que mais uma vez estão sendo vítimas de projetos de leis nada sóbrios.

*FEBEAPÁ – Festival de Besteiras que Assola o País – Livro de Sérgio Porto escrito em 1966 sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta.

Artigo anteriorCasal audacioso é preso após assaltar supermercado em shopping
Próximo artigoCircular em faixa exclusiva para ônibus passa ser infração gravíssima(Atualizada)

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui