O que mudou depois da pandemia de Covid-19? – por Carlos Santiago

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado

A pandemia da Covid-19 acabou. Milhões de pessoas morreram, outras milhões ficaram sequeladas. Uma doença que modificou o funcionamento de milhares de cidades e as rotinas de bilhões de habitantes no planeta. Agora, depois dessa experiência com a maior pandemia do século 21, será que o ser humano melhorou suas atitudes? Ou continua agindo e defendendo tudo como antes? E as instituições de Estados e os governantes melhoraram o mundo? É bem instigante esse debate.


No plano internacional, a guerra envolvendo diretamente a Rússia e a Ucrânia, que iniciou no auge da pandemia, continua sem solução. Morreram milhares de jovens, milhares perderam casas, cidades inteiras foram destruídas, bilhões de dólares foram e estão sendo gastos com armamentos, enquanto os dirigentes políticos desses países continuam nos cargos e, em algumas situações perversas, recebendo apoio popular.

A Europa continua com partidos extremistas que não toleram os imigrantes de países pobres e dificultam ou já retiraram direitos da comunidade Lgbt; na África Ocidental e Central, a luta pelo Poder, pelo controle político e econômico dos Estados, ainda, ensejam ditaduras e golpes militares com boa aceitação popular; a China não tem pluralidade política, a ditadura do partido único permanece, com apoio até de grandes empresas capitalistas que investem lá; nos Estados Unidos da América, os extremistas e seus representantes agem com posturas antidemocráticas e, ainda, possuem o apoio da sociedade e do eleitorado.

Há décadas o tema do Meio Ambiente é pauta de reuniões internacionais de líderes dos governos de países. Inúmeras reuniões foram realizadas, há sempre compromissos assumidos, mas não cumpridos. Todos cobram um ambiente limpo e economia sustentável. Porém, ninguém “abre mão” de energias e meios de produção poluentes, nem o Brasil quer se livrar do petróleo. No encontro de países amazônicos, aconteceram manifestações e abordagens avançadas sobre o clima e o desmatamento, mas o documento final não trouxe grandes destaques.

Há, também, no âmbito da política, um claro debate sobre a qualidade da democracia, dos partidos políticos e de manifestações de lideranças contra os valores democráticos. O centenário debate envolvendo ideologias de Esquerda e de Direita permanece vivo e com novas configurações estratégicas, em especial na Europa e na América Latina, em que o aumento da desigualdade social alcança indicadores terríveis para o século 21. Porém, o eleitorado continua legitimando essa situação, modelos políticos e práticas que não resolveram os problemas sociais e os conflitos de guerra.

Há um lado positivo no mundo de hoje. As tecnologias de comunicação avançaram. O mundo físico tem um mundo digital paralelo. Informações e imagens chegam num piscar de olhos nas telas de aparelhos digitais de bilhões de pessoas. No entanto, os conflitos religiosos, a violência contra mulheres e os genocídios contra povos originários só crescem. O ser humano avançou nas tecnologias, mas a mente e as atitudes humanas não avançaram.

O Brasil, há décadas, é um país sem rumo. Não tem crescimento econômico sustentável, a política partidária não avança, a maioria dos políticos continua usando o bem público para ficar milionário, os grandes empresários adoram benefícios fiscais e buscam pagar pouco tributo. Os poderes da República foram capturados por estamentos. Privilégios, privilégios! A corrupção não tem freio, quem combate à corrupção é tratado como inimigo do Estado.

No Amazonas, sem rumo e sem esperança, governos eleitos, são formados e governados com base na publicidade dos restaurantes populares e a realização de festivais e muita festas. Indicadores de violência, saúde, meio ambiente e mobilidade urbana são péssimos. O recolhimento do lixo e a segurança pública são casos de polícia. Porém, os governantes estão bem avaliados pela população. Manaus, a capital da morte por Covid-19, não tem memória. “Tudo como dantes no quartel de Abrantes”.

A pandemia não abalou a capacidade do ser humano para a destruição, para o ódio e continua a tratar a pobreza como fenômeno normal. Nem o avanço das ciências e das tecnologias mudaram as ações de governantes e governados. E, com tom cético, é possível que a expressão que diz “dias piores virão” seja perfeitamente aceita no mundo real.

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado.

Artigo anteriorCrianças encontram homem morto em área de mata no Santo Antônio
Próximo artigoBarqueata leva população para aprender mais sobre a conscientização da Amazônia

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui