O que mudou no Brasil?

Luiz Lauschner Escritor e empresário

Duas coisas que os brasileiros esperavam ver sepultadas: A economia gerida por pacotes e as greves dos professores da universidade federal. Os pacotes porque foram largamente usados pela ditadura militar, regime que o atual governo diz ter sido nocivo. As greves, porque os intelectuais das universidades são os maiores responsáveis para a chegada da esquerda ao poder. O Brasil pintado pela propaganda oficial que atingiu o clímax na campanha eleitoral de 2014 desbotou e mostrou que por baixo da tinta havia tijolos carcomidos e madeira podre.


Os cortes de verbas deixaram de ser apenas enxugamento para chegar ao essencial. Falta até papel para a impressão de trabalhos acadêmicos realizados por professores ou por alunos. Participar de Congressos Acadêmicos fora da cidade sede da universidade para apresentar estes trabalhos? Só com dinheiro do próprio bolso ou de alguma rifa. Receber diárias e passagens? Tudo cortado.O Programa Nacional de Formação de Professores (Parfor) está suspenso ou agonizando na maioria das universidades federais que o adotou.

Em época de crise o governo sempre se volta a extorquir de quem já paga e a cortar de quem tem menos poder de reclamar. Há quem diga que os cortes do MEC sejam apenas em escolas e políticas públicas. Ledo engano. Ainda há os que acreditam que os cortes sejam necessários para equilibrar as contas. Ora, pelo andar da carruagem, a crise provocada pela irresponsabilidade deste mesmo governo veio para ficar. Os professores são capazes de fazer muito barulho nas mídias sociais e na própria rua. Por isso, talvez este governo que tem medo do povo, encontre uma maneira de amenizar a crise e calar a classe. Para isso, outro setor terá de sofrer.

Os cortes em outros setores, principalmente nas diárias dos delegados da Polícia Federal e do Ministério Público Federal têm bem outras intenções: Impedir as investigações que deram origem a todo o descalabro que aí está. A Polícia Federal não tem o hábito de fazer o mesmo barulho que os professores. Mas, se provocada de maneira indevida, o tiro pode sair pela culatra. O corte de verbas para que nada seja apurado pode resultar num vazamento do que já o foi e causar ainda mais transtornos a este combalido governo.

Quando o governo – falo também do legislativo – não dá o exemplo cortando mordomias lá no alto, não tem moral para implantar nenhum programa de austeridade. O mesmo governo que já se disse a favor dos trabalhadores, hoje quer tirar conquistas destes. Conquistas que foram duramente conquistadas através de décadas. Cortar verbas do Programa de Educação à Distância que exige uma estrutura pífia e estimular as mordomias do primeiro escalão é como cortar o suco artificial na mesa do trabalhador enquanto os donos do poder se refestelam em banquetes regados a vinho importado.

A crise está aí. As mentiras usadas para justificá-la e esconder os próprios erros não convencem nem aos alunos do ensino básico, muito menos aos professores universitários. Eles também sabem que o braço da justiça alcança apenas aos empresários e funcionários de estatais e deixa de lado os políticos que promoveram tudo isso. Não se pede que o governo calce as sandálias da humildade, mas que abandone o ar de arrogância, admita seus erros e dê exemplo de austeridade eliminando supérfluos no primeiro escalão. Se não fizer isso, pode apregoar o que quiser que não vai encontrar quem ainda acredite nele. Como dizia o poeta Chico Buarque que, hoje em Paris, ainda acredita que o PT seja o mesmo de 30 anos:“De muito gorda a porca já não anda, de muito usada a faca já não corta…”

Confiança não se impõe. Se conquista com bons exemplos. E a crise dos bons exemplos é mais grave que qualquer outra.

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