Olhar de criança – Por Marcelo Ramos

Marcelo Ramos é advogado e professor.

Parei meu carro pra tomar um café e antes que eu pudesse sair percebi um vendedor com um carrinho de picolé parado.


Era um senhor. Rosto sofrido, maltratado pelo sol, estava vestido de forma simples mas alinhada, sapato, calça social, uma camisa polo por dentro da calça e cinto.

Ele parou na minha frente, enxugou o rosto com uma pequena toalha lilás.

Eu me paralisei. Minha mente inquieta pensou na história daquele homem.

Toda pessoa tem uma história.

Quem o esperava em casa?

Tinha filhos? Esposa? Provavelmente Netos?

Como consegue pagar as contas no final do mês?

Será que tem dia que ele não come?

As pessoas mais simples estão virando paisagem pra nós.

Lembrei que no dia anterior parei o carro na drogaria e quando voltei minha filha perguntou: Pai, por que aquele homem tá ali?

Marcelo Ramos é advogado e professor.

Era um idoso morador de rua sentado ao lado da entrada da drogaria. Rosto triste, roupas sujas, barba grisalha, cabelos desarrumados, não posso lembrar os pés e das mãos.

O coração puro de uma criança não é capaz de ignorar ninguém, não transforma ninguém em paisagem.
Mas precisava responder a Marcela. Por que aquele homem estava ali? Como explicar pra uma criança a estupidez humana que permite poucos com tanto e tantos com tão pouco.

Disse pra minha filha que ele não tinha família, não tinha casa e que ela deveria valorizar a família e a casa dela. Mas isso não explica tudo. Dá vergonha de explicar o resto.

Se eu não consegui explicar, a minha pequena conseguiu não me deixar esquecer que nunca podemos perder o olhar de criança para todas as pessoas, em especial, aquelas mais humildes, aquelas que cada vez menos gente consegue ver.

*Marcelo Ramos é advogado, professor e escritor.

 

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