Os eleitores suíços rejeitaram neste domingo salário de R$ 10 mil

Se aprovado seria o maior salário do mundo/Foto: Reuters
Se aprovado seria o maior salário do mundo/Foto: Reuters
Se aprovado seria o maior salário do mundo/Foto: Reuters

Os eleitores suíços rejeitaram neste domingo em um referendo a proposta para introduzir o que seria o maior salário mínimo do mundo, indicam as primeiras projeções. Caso fosse aprovada, os empregadores teriam de pagar um mínimo de 22 francos suíços por hora a seus trabalhadores, o que equivale hoje a US$ 24,70 ou R$ 54,58.

O piso mensal seria de 4 mil francos suíços ou cerca de R$ 9.970. Hoje, não há qualquer salário mínimo no país.


Os defensores da proposta, como sindicatos e partidos de esquerda, consideram que a medida é necessária para as pessoas terem uma vida digna. Mas os críticos, como pequenos e grandes empresários, argumentam que esse valor aumentaria os custos de produção e o desemprego.

O valor que havia sido proposto era mais que o dobro da remuneração mínima de Luxemburgo (US$ 10,65), atualmento a maior do mundo. Depois vem as da França (US$ 10,63) e da Austrália (US$ 10,21). No Brasil, o mínimo mensal de R$ 724 reais corresponde a R$ 3,29 por hora (US$ 1,48). Os dados são da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para 2013.

Dados do governo da Suíça indicam que apenas 9% da população economicamente ativa, ou seja, 330 mil suíços, recebem salário mensal inferior a 4 mil francos. Os trabalhadores com baixos salários da Suíça, em sua maioria, são mulheres e operam no setor de serviços, em hotéis e restaurantes.
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Os líderes empresariais e do governo disseram que o baixo desemprego e os altos padrões de vida para a maioria mostraram que não houve necessidade de mudança. Pesquisa de opinião, realizada pelo instituto SSR e divulgada no último dia 7, já indicava que 64% dos entrevistados eram contra a proposta do mínimo e 30% a favor.

Custo de vida

“A grande questão na Suíça é o custo de vida, que é muito alto. Estima-se que o mínimo rendimento para uma vida decente no país seja de 3,8 mil francos suíços”, explicou à BBC Brasil o economista brasileiro Guilherme Suedekum, que cursa mestrado em Estudos de Desenvolvimento Econômico no Graduate Institute, em Genebra.

O país figura entre os mais ricos da Europa e resistiu incólume à crise econômica que abala o continente desde 2010. Grande parte do feito deve-se ao setor bancário, o mais lucrativo da Suíça.

“Do ponto de vista econômico, a proposta da adoção de um salário mínimo é mais prejudicial do que benéfica, mas do ponto de vista social, pode ser uma opção de desenvolvimento com menos pujança”, afirmou Suedekum.

Segundo a União Sindical Suíça (USS), que propôs o referendo, a iniciativa promoveria um salário digno, distribuiria a renda no país e também ajudaria a diminuir a diferença de salários pagos a homens e mulheres (que representam a maioria entre os que recebem menos).

“Quero que meu filho possa sair da faculdade com a garantia de um salário mínimo que ao menos pague as contas dele”, afirmou a vendedora suíça Barbara Martin, 43.

Grande parte dos imigrantes também vê com bons olhos a ideia do mínimo. “Dá uma sensação de mais segurança e é um valor alto, ao contrário do mínimo no Brasil, que não dá para nada”, disse Larissa Ribeiro, manicure em um salão de Genebra.

Oposição
Por outro lado, os opositores sugerem que a proposta possa provocar uma disparada da inflação e do desemprego. “Como o mínimo é um indexador e serve de base para toda a economia, a tendência é de que ele puxe para cima os outros salários e os preços também”, acrescentou Suedekum.

Em comunicado divulgado nesta semana, a Associação Suíça dos Empresários declarou que a aprovação de um mínimo seria uma medida “socialmente e economicamente fatal”. Segundo a organização, pequenos e médios empresários teriam dificuldade de arcar com os salários, principalmente em regiões menos abastadas do país, fora do eixo Genebra-Zurique.

“A Suíça tem uma economia estável, mas o salário mínimo fixo cria rigidez para as empresas. Não é possível, por exemplo, reduzir pagamentos no caso de uma crise. Como acontece no Brasil, a única solução acaba sendo demitir pessoal”, explica Suedekum.

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