Os invisíveis(Por Flávio Lauria)

Professor Flávio Lauria (AM)
Professor Flávio Lauria (AM)
Professor Flávio Lauria (AM)

Confesso que algumas vezes me sinto invisível, seja por estar presente em algumas ocasiões e nem me ver marcado em uma rede social, ou plenamente visível com o amor que decidi na minha vida que de quando em vez publica fotos sem minha presença. Via de regra as pessoas que se julgam importantes, não dão atenção ou importância ás pessoas de menor poder aquisitivo ou de posição na sociedade.
Já se fizeram experiências em que essas pessoas invisíveis foram substituídas por outras sem que os cidadãos ilustres e financeiramente mais bem situados, que estavam em contato casual com elas, percebessem. Tanto faz falar com uma ou com outra, é a mesma coisa, no máximo será uma farda, ou uma função, não são vistos – o gari, o manobrista, o pequeno empregado, o zelador, o vigia, o porteiro, o vendedor do grande magazine. Como não os veem, as pessoas importantes tendem a imaginar que esses pequeninos nem existem e aí, tranquilos, certos de sua não-existência, não hesitam em fazer e desfazer na frente deles, como se estivessem sozinhos. Põem-se a subornar, corromper, prevaricar.


Sentem-se impunes (que essas ilicitudes são de dificílima comprovação) e tramam nas sombras, sem testemunhas, sem documentos escritos, sendo, geralmente, aqueles com quem negociam muito mais cúmplices e comparsas do que vítimas. Mas aqueles pequeninos, que não são vistos, veem. E às vezes são convocados para falar. E falam, embora sem entusiasmo e sem gosto, sem terem tido a iniciativa, como apenas cumprindo elementar obrigação. E dão seu testemunho humilde mas firme, com absoluta segurança, apenas a verdade. E até se assustam com a importância que seu modesto depoimento passou a ter, e se espantam com as consequências que aquelas singelas afirmações provocaram. E desmentem as versões fantasiosas, ficções, mentiras, cinismos das pessoas importantes, dos poderosos.

E é formidável ver que o todo-poderoso da véspera, que ninguém ousava afrontar, o intocável, até mais idolatrado pela oposição do que pelos companheiros de partido, o que, impávido, se dispunha a ir ao Congresso e arrostar todas as críticas, o homem forte do governo, se desmilinguiu de repente, somente pela até atemorizada palavra do caseiro, confirmando que o viu, sim, dezenas de vezes, na casa das negociatas e das orgias, em que ele afirmara jamais haver posto o pé… Ficará imortal a resposta do humilde motorista ao inquisidor, deputado habituado às negociatas e ao mercenarismo, que imaginou arrasá-lo com a pergunta óbvia do seu universo de cinismos e patifarias: “quer dizer que o senhor está testemunhando tudo isso somente por amor ao Brasil?” Imprevisível, fulminante, desmoralizador, o pequenino motorista deu a réplica que jamais passaria pela cabeça do grande patife, de cujo coração há muito se ausentara qualquer patriotismo: “E o senhor acha pouco?” Outro dia, um querido amigo, horrorizado com tantos espetáculos da corrupção mais desbragada, com esses péssimos exemplos que todo dia as grandes elites dão ao País – nos Executivos, Legislativos e Judiciários – me perguntou se ainda seria possível ser otimista no Brasil de hoje. Mas como não ser? Antes de mais nada, tudo depende de nós mesmos, tudo está nas nossas mãos.(Flávio Lauria é Professor Universitário e Consultor de Empresas – [email protected])

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