Praça 14 de Janeiro, 132 anos de tradição – por Garcia Neto

Jornalista Garcia Neto

Faltam poucas horas para dar início aos festejos comemorativos dos 132 anos do Bairro Praça 14 de Janeiro.


Só nele estou há mais de 66 anos para contar a história deste bairro e, sobremodo, honrado por fazer parte do tradicional grupo seleto da “velha guarda” de um bairro reconhecido como o de maior reputação de Manaus, tanto na cultura, quanto nos esportes, na política, no comércio.

Por tradição cultural, Praça 14 é reduto dos negros maranhenses, afrodescendetes que chegaram a Manaus no início dos anos de 1890. A Praça 14 teve suas origens durante um levante popular deflagrada no dia 14 de janeiro de 1892 contra o governador da Província do Amazonas, Gregório Thaumaturgo de Azevedo.

Jornalista Garcia Neto

A insatisfação teria sido motivada pelo atraso no pagamento do funcionalismo e fornecedores e pela falta de atenção aos reclamos populares. O manifesto teve apoio de Lima Bacuri, Leonardo Malcher, Almino Affonso e demais políticos de oposição e pessoas do povo insatisfeitos com Gregório.

A instabilidade social fazia mobilizar os movimentos populares da época reunindo o povo nas principais ruas principais da cidade, para saírem em passeata de protesto na direção ao antigo Palácio do Governo, localizado na Praça D. Pedro II, exigindo a renúncia imediata do governador. Gregório deixou o governo no dia 27 de fevereiro do mesmo ano que o general Floriano Peixoto assumiu a presidência da República.

Para a vaga de Thaumaturgo foi nomeado Eduardo Gonçalves Ribeiro. Foi no dia 14 de Janeiro que o soldado do Esquadrão de Cavalaria, João Fernandes Pimenta, do Batalhão da Polícia de Segurança do Estado, tombou morto com um tiro no peito em meio a troca de tiros com manifestantes no local onde está localizada a praça. Com o assassinato do soldado, a praça foi batizada com o nome de Praça da Conciliação. Mais tarde passou a chamar-se Praça Fernandes Pimenta até o final do governo de Plínio Ramos Coelho.

No primeiro ano do governo de Gilberto Mestrinho foi apresentada uma proposta de mudança do nome Praça 14 de Janeiro para Praça Portugal, em homenagem à padroeira do bairro Nossa Senhora de Fátima, de origem portuguesa. A proposta foi rejeitada pela maioria absoluta dos moradores. Mesmo a contra gosto, a propositura foi aprovada pela Câmara Municipal de Manaus, oficializando a mudança oficial, no entanto, ficou reconhecida até os dias de hoje como Praça 14 de Janeiro.

Muito a recordar – Decorridos 132 anos de sua criação, o bairro cresceu, evoluiu, a geografia original mudou com o passar dos tempos até transformar-se em bairro comercial, preferencialmente de lojas de autopeças. Ainda lembro da área original onde está localizada a igreja de Fátima; lembro do antigo santuário de Fátima que ficava ao lado do Banco do Brasil; do antigo posto policial construído em madeira (bem em frente da praça onde funciona a Mil Milhas); dos “boca-de-ferro” da Voz da Praça 14 de Janeiro do Chico Tapioca (hoje, Lanchonete Papa-Léguas) e da Voz Serenata do seo Álvaro (hoje, uma Casa de Peças); do comércio de Antônio Caixeiro (hoje funciona a Manaus Motocenter); da padaria do seo Carriço; do famoso Jaqueirão (hoje, Pemaza Autopeças); do morro das três palmeiras (ao lado a Academia Nobre, do seo Orleans Nobre, ex-jogador do Fast Clube); do Piquete da Cavalaria de Polícia; da Escola Salesiana São Domingos Sávio; da antiga igreja de São José Operário; do Seminário dos Salesianos (hoje, Uninorte); das pastorinhas da Tia Lindoca e de dona Lourdinha; do famoso batuque da Mãe Efigênia, na rua Duque de Caxias, e das águas límpidas do Igarapé do Mestre Chico.

A nossa Praça 14 é essa comunidade relembrada pelos antigos rituais de afirmação e reconhecida pela festa de São Benedito, dos bois-bumbá Caprichoso e Malhadinho (do nego Bita) e do samba de crioulo da Vitória Régia. Muitos festejos tradicionais deixaram de ser comemorados; não voltam mais. Lembro dos festejos de São Cosme e Damião, do Divino Espírito Santo, de São Cristóvão, de São Benedito – uma festa e tanto no bairro com o tradicional Mastro do Barranco junto ao Mangueirão –, a Ciranda da Visconde, a Tribo dos Andirá, a Dança do Tipiti e Dança dos Cassetinhos. O berço do samba – Em 1947 surge a primeira agremiação de samba com o nome Escola Mixta da Praça 14 de Janeiro, sob o comando de Benedito Brucutu, Eunice Medeiros, Edelmiro da Costa, Raimundo Soeira e do grande compositor Zé Ruidade.

Neste mesmo ano a Escola desfilou na Avenida Eduardo Ribeiro, sagrando-se campeã do carnaval de Manaus. No dia 1º de dezembro de 1975, Fernando Mesquita e Edmilson Alves propõem a mudança do nome da Escola para Grêmio Recreativo Escola de Samba Vitória Régia, a Escola Verde-Rosa. Nesta nova fase a Escola ganha nova dinâmica com a colaboração de Raimunda Dolores Gonçalves (Tia Lindoca), Tia Lurdinha e Zé Ruidade ao lado de Nedson Medeiros (o Neném), Roberto Cambola e Darcy Sérgio de Souza (o Barriga), que assinaram a ata de fundação da Escola de Samba. Com certeza, logo mais, será dado o início de pelo menos três dias de muita festa, de batucada, de danças, de muitas mulheres, de muito samba e de bastante bebemoração. Parabéns ao meu querido e amado Bairro Praça 14 de Janeiro.

*Garcia Neto é professor e jornalista

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