Estamos vivendo um processo de fracionamento cada vez maior das lutas sociais, estimulando um caminho de intolerância que compromete o diálogo necessário para o desenvolvimento de qualquer nação.
Os valores civilizatórios, como direito a vida, liberdade e até o direito de comer, são colocados de lado para o protagonismo de pautas como aborto, porte de armas, questões religiosas, raciais, de orientação sexual, de proteção animal.
Não que essas pautas temáticas não sejam importantes num país de tanta desigualdade e de tanta injustiça, mas elas não podem perder de perspectiva que há uma condição humana que nos unifica.
A crise maior hoje, não é uma crise de negros, mulheres, jovens, índios, católicos ou evangélicos. A crise maior é a crise da condição humana que coloca a todos em risco.
Acima das causas temáticas estão, o que chamei no início do texto de valores civilizatórios.
O que está em risco hoje são direitos inerentes a própria condição humana. O direito a vida, a liberdade, o direito de ter um emprego e até mesmo o direito de comer todo dia.
A luta por esses direitos unifica o nosso povo. Mas, infelizmente, essa energia unificadora está absolutamente fragmentada em movimentos que enxergam e lutam pela parte, sem se darem conta de que a solução está no todo.
tempero desse ambiente de divisão do nosso povo é a intolerância. Os donos de verdades absolutas vociferam contra qualquer um que pense diferente e tentam hegemonizar o debate político e ideológico.
O diálogo político é alimentado como briga de torcida, sem espaço para o ouvir, com opiniões que não se importam com racionalidade e que deixam de lado ou relativizam a grandeza de valores como a liberdade e a democracia.
Parecemos andar por um beco escuro e sem saída.
É preciso jogar sobre esse momento as luzes do diálogo, da humildade, da sabedoria, do respeito ao próximo para que possamos enxergar e lutar juntos por um novo caminho de paz, justiça e esperança.
Marcelo Ramos, é advogado, professor e escritor.