Senha para a Corrupção – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Um verbo trivial, quase doméstico, uma palavrinha sem importância usada nas situações mais prosaicas, acaba de se transformar na senha da corrupção nas eleições parlamentares mais corrompidas dos últimos anos.


Os diálogos gravitavam inevitavelmente em torno do verbo “fechar”. O candidato tal “fechou” com o prefeito da cidade de Manacapuru. Como? Pergunta o interlocutor incrédulo, se o candidato é de um partido e o prefeito é adversário da agremiação em seu município. Qual nada, responde o outro, entrou dinheiro grosso na combinação. Mais adiante, é o vereador mais votado do município de Santa Isabel do Rio Negro que “fechou” com outro candidato. Dizem as más e as boas línguas que ele recebeu 80 mil para apoiar.

Em verdade, por onde se andava no Amazonas e, provavelmente, por todo esse imenso Brasil democrático, foi o que mais se viu e o que mais se ouviu. Todos “fechados” com todos na aposta de quem iria receber mais em troca dos sufrágios dos eleitores. O resultado, com raras exceções, apontou de que lado estava a pecúnia mais farta e abundante.

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Consultor.

Nas últimas eleições os “Tião Medonho”, acostumados a não ser incomodados em outros pleitos ou punidos pelos excessos praticados, voltaram com renovada disposição para “fechar” acordos espúrios e criminosos em todos os municípios, distritos, povoados ou comunidades. Há reclamação geral entre os políticos desafortunados nas urnas, e mesmo entre os vitoriosos, todos preocupados com o rumo tomado pela deslavada corrupção, cuja senha foi o verbo “fechar”.

O velho combatente Ulysses Guimarães, dizia que “a corrupção é o cupim da República. República suja pela corrupção tomba nas mãos dos demagogos que, a pretexto de salvá-la, a tiranizam”. O mais grave nesse melancólico episódio, em que se misturam o silêncio conivente dos plutocratas e a falta de coragem dos democratas para mudar, é que, via de regra e em sua maior parte, o dinheiro utilizado nas campanhas políticas é de fonte não identificada. Sem eufemismo, é dinheiro sujo, roubado dos cofres públicos para manter no poder uma elite descompromissada com o povo.

Todos cantam as vantagens do sistema de voto distrital misto, mas ninguém ousa implantá-lo por receio de perder as chances de estender as asas da corrupção por toda a circunscrição eleitoral. É unânime o desejo de impor aos políticos a fidelidade partidária, com que será posto termo aos chamados “partidos ônibus”, em que se entra e desce quando o passageiro deseja. Onde a determinação de impedir essa vergonhosa desfiguração do partido, principal instrumento da vida democrática? Há esperanças na crescente vigilância da opinião pública começando a atingir os grotões. A prova exuberante foi a expulsão de deputados comprometidos com o escândalo dos salários. É necessário avançar mais. O Brasil não pode prosseguir tendo sobre a cabeça o anátema lançado por Bernanos, de que aqui o “único fundamento do poder é a ilusão dos miseráveis”.

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