Sínodo da Amazônia, o discurso não apontou soluções – por Osíris Silva

Escritor e economista Osíris Silva/Foto: Divulgação

No encerramento do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, sábado à tarde, 26 de outubro, o Papa Francisco voltou a enfatizar que “a consciência ecológica vai em frente e hoje nos denuncia um caminho de exploração compulsiva e corrupção. A Amazônia é um dos pontos mais importantes disso”. Um símbolo, eu diria, salientou o Sumo Pontífice.


O tema do Sínodo – “Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral” – animou bispos de todo o mundo a buscarem acesso a um estudo produzido por 13 autores, três dos quais são brasileiros e membros da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam).

O texto analisado foi dividido em três subtítulos e linhas de ação: “A voz da Amazônia” (Ver), “Ecologia Integral: o clamor da terra e dos pobres” (Discernir) e “Igreja Profética na Amazônia: desafios e esperanças” (Agir).

O documento serviu de linha mestra a discussões de temas acerca de riqueza cultural e ecológica da região, mudanças climáticas causadas por desmatamentos, os direitos de quilombolas e a crise migratória da Venezuela.

Segundo o Portal do Vaticano, o Papa avaliou que a maior importância do Sínodo dos Bispos reside nos diagnósticos elaborados sobre questões culturais, ecológicas, sociais e pastorais da Amazônia. Alinhado ao conceito de ecologia integral, ele frisou que os problemas ambientais precisam ser vistos dentro de seus contextos sociais, “não só o que se explora selvagemente os recursos da biodiversidade, mas também as pessoas”. O documento, de caráter eminentemente teórico, todavia não aponta soluções práticas.

Francisco afirmou que pretende criar um órgão dentro da Santa Sé dedicado exclusivamente aos cuidados com a Amazônia, que deverá funcionar sob a coordenação do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, chefiado pelo cardeal Peter Turkson, de Gana. O objetivo maior é combater todo tipo de injustiça, exploração de pessoas e destruição da identidade cultural que se verifica na região, declarou o Papa no encerramento do Sínodo. Ele lembrou sua encíclica Laudato Si’, publicada em 2015, como um marco para balizar o pensamento ecológico segundo as bases do catolicismo.

Escritor e economista Osíris Silva/Foto: Divulgação

Sete em cada dez católicos brasileiros consideram muito importante preservar a Amazônia, e 85% disseram concordar que atacar a região seja um pecado. É o que aponta uma pesquisa feita pela Instituto Ideia Big Data, para avaliar a posição dos fiéis sobre políticas para a região durante a realização do Sínodo.

A pesquisa, comissionada pelas ONGs WWF-Brasil, Instituto Clima e Sociedade (iCS) e Movimento Católico Global pelo Clima (GCCM), ouviu 1.502 católicos em todo o Brasil. No início de junho e analisou também a opinião dessa parcela da população sobre as ações da gestão Bolsonaro para a área ambiental.

De acordo com a pesquisa, 68% disseram que é importante proteger a Amazônia para o crescimento do País.  Pois o desenvolvimento nacional depende do meio ambiente protegido, 10% disseram ser irrelevante a questão para o crescimento econômico, e 10% afirmaram que a preservação ambiental atrapalha o crescimento.

A consulta mostrou também que 29% dos católicos consideram a atuação do presidente nessa área como péssima e 12% como ruim. Outros 30% avaliam como regular e 22% como ótima ou boa. Nada mal para um presidente tão hostilizado pela mídia internacional turbinada por ONGs.

A assembleia dos bispos, por outro lado, fugiu das questões macroeconômicas de maior relevância, e deixou de propor soluções concretas acerca dos problemas da região. Nem poderia, porquanto ficaram de fora das consultas e comissões temáticas universidades, Sudam, Suframa, CBA, Inpa, Embrapa, organismos estaduais de ciência, tecnologia e planejamento. Além dos centros responsáveis pela base da ciência, tecnologia e inovação na região. Isto é, quem efetivamente vive e entende seus meandros. Nesse sentido, o Sínodo da Amazônia pode haver se transformado num samba de uma nota só.

Manaus, 4 de novembro de 2019.

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