A solução para a questão da Educação no Brasil

Educação no Campo Veja o especial sobre a situação das escolas rurais no Brasil
Educação no Campo Veja o especial sobre a situação das escolas rurais no Brasil

Por Bernardo Santoro*


Sempre que alguém me pergunta qual é a solução para determinado problema, eu me recordo da sabedoria do personagem “Gato de Cheshire”, do romance “Alice no País das Maravilhas”[5]:

O Gato apenas sorriu quando viu Alice. Parecia de boa índole, ela pensou, mas não deixava de ter garras muito longas e um número respeitável de dentes, por isso ela sentiu que devia ser tratado com respeito.

“Gatinho de Cheshire” começou um pouco tímida, pois não sabia se ele gostaria do nome, mas ele abriu mais o sorriso. “Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para sair daqui?”

“Isso depende bastante de onde você quer chegar”, disse o Gato.

“O lugar não me importa muito…”, disse Alice.

“Então não importa que caminho você vai tomar”, disse o Gato.

Como visto, a educação não tem uma natureza substantiva, sendo um meio de troca de conhecimento. A educação é, antes de tudo, um processo de autodescobrimento. É através dessa linda interação com outros homens (educação propriamente dita) e com a natureza (criação ou descoberta) que se descobre suas aptidões, vontades, prazeres e mesmo as questões filosoficamente mais relevantes: quem você é, por que está aqui e o que quer fazer com essas respostas.

O processo educacional está em todo lugar, em todas as pessoas. Pessoas são diferentes, com necessidades e realidades diferentes. As Alices perdidas no meio da floresta da vida nem sempre têm noção sobre que lugar querem chegar, ou seja, que tipo de educação precisam para atingir seus objetivos particulares, ou, ainda, que tipo de conhecimento as levaria de um estado de menor satisfação para um estado de maior satisfação, no dizer misesiano.

A boa educação passa por se saber primeiro aonde a pessoa quer chegar, para então se decidir que caminho se deve tomar. Não o contrário, como acontece hoje. Infelizmente, os Gatos de hoje não têm a humildade e a moral do Gato de Cheshire, para estimular as Alices a escolherem por elas mesmas em que lugar elas querem chegar.

Burocratas pedagogos de órgãos como o Ministério da Educação, de uma soberba inigualável e pobreza de espírito ímpar, criam caminhos pré-determinados (educação), longos e ineficientes, para que todos cheguem a um lugar específico de escolha deles, a doutrinação estatista que justifica o sistema em que as Alices dependem dos Gatos (ou seriam gatunos?).

Uma verdadeira educação libertária é uma educação despida de preconceitos, sem estamentos do tipo “1º ano”, “ensino fundamental” e “ensino médio”. Cada um buscaria uma instituição de ensino de acordo com suas necessidades. Esse sistema provavelmente levaria a um ensino fundamental parecido com o que temos atualmente, mas os métodos de ensino (a verdadeira educação) seriam de livre-escolha da instituição, de acordo com as demandas de mercado, ou seja, de acordo com a vontade dos pais, dos alunos e das empresas que necessitam de profissionais, ou seja, os recursos seriam alocados de maneira muito mais eficiente, com pouco desperdício. E as pessoas se formariam em “matemática básica”, “português avançado” e “história do Brasil”, assim como em “métodos de agricultura”, “fotografia” ou “mecânica”.

Esses diplomas teriam valor não porque o MEC disse que eles têm, mas porque as pessoas, através do livre mercado, reconheceriam esses diplomas como sendo bons, e se determinados diplomas não fossem bons, a escola provavelmente iria à falência. As universidades não estariam presas a regras sobre quem elas podem ou não aceitar no curso, podendo aceitar crianças superdotadas nas suas fileiras, ou ainda pessoas com grande conhecimento de matemática e nenhum conhecimento de biologia para seu curso de engenharia civil. Novamente aqui o valor do profissional se daria pela sua técnica e talento, não pela vontade de um burocrata. A avaliação se daria pelo livre mercado e por um sistema de preços, que demonstram eticamente o valor de qualquer serviço, inclusive o educacional. O autodidatismo, a criação e o descobrimento seriam tão importantes quanto o processo educacional tradicional, pois o que importaria é o conhecimento adquirido, e não a forma como ele foi obtido (desde que de maneira não-violenta). As sociedades profissionais teriam um papel essencial avaliando os profissionais, mas sem o poder de impedir o profissional de atuar, sendo instituições de indicação de profissionais, e não de coerção, violência e reserva de mercado.

Sem amarras estatais, empresas e instituições estrangeiras investiriam pesadamente no mercado educacional e profissional, aumentando a eficiência do ensino em conjunto com a queda de preços. No mundo jurídico, por exemplo, um dos cursos mais famosos do Brasil é um curso online. Um professor de altíssimo gabarito dá uma aula online para milhares de alunos em todo o Brasil, em salas de aulas com telões, barateando assustadoramente o custo e levando aulas de grande nível para rincões onde, em outro momento, seria impossível tal profissional chegar. Experiência análoga, em nível mundial, é a Khan Academy, também com aulas online.

Em um verdadeiro livre mercado e com os recursos tecnológicos atuais (também atingidos graças ao livre mercado), a gama de possibilidades para a melhoria e barateamento do processo educacional é infinita. Nenhum burocrata ou órgão governamental teria como prever quais seriam os métodos mais eficientes e baratos para a transmissão (educação) de cada conhecimento perseguido por cada pessoa. No entanto, temos muitas mentes pensantes, espalhadas em cada cantinho do país, prontos para dar sua contribuição local e nacional para suprir essas carências, desde que elas sejam livres para prestar esses serviços.

E o mais interessante disso tudo é que não há nenhuma novidade. É apenas o resgate do conceito clássico, instintivo e natural da educação, antes da subversão estatista. Se o grande Mises[6] uma vez disse que a boa economia é a economia elementar, também a boa educação é a educação elementar.

A interação voluntária dos homens de bem, por meio do livre mercado educacional, revolucionará o mundo.

(*Bernardo Santoro é Diretor Administrativo do Instituto Liberal do Rio de Janeiro, advogado, ex-Presidente do Libertários e mestrando em Filosofia do Direito (UERJ)

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