Amazônia, biodiversidade e governança ambiental – por Osíris Silva

Escritor e economista Osíris Silva/Foto: Divulgação

Discutir desenvolvimento da Amazônia, segundo o pesquisador Alfredo Homma, da Embrapa Amazônia Oriental, deve, a priori, valorar ambiental e economicamente seus recursos naturais de sorte a construir modelo de uso do patrimônio natural sem destruí-lo, e assim garantir valor à floresta para que os bens produzidos a partir dela possam competir internacionalmente com outras commodities.


O desenvolvimento e a transferência de tecnologias ambientalmente adequadas que garantam o aproveitamento das potencialidades regionais devem, por conseguinte, ser pautados pelo diálogo salutar entre o poder público e o setor empresarial.

Um dos graves problemas que emperram avanços nesse campo, segundo Homma, diz respeito a que “a oferta de tecnologia na Amazônia é pequena e desfocada”, agravado pelo fato de que as pesquisas práticas pelo atual sistema de avaliação não atraem interesse de pesquisadores, todos em busca de artigos Qualis A1, A2, B1 a B3 para potencialização de seus currículos Lattes. A busca de resultados práticos não rende artigos desta natureza”, salienta.

Impõe-se, com efeito, plena consciência dessas limitações, sobretudo por tratar-se, a região, de uma questão nacional, política, cultural, científica e tecnológica diferenciada. Instituições de pesquisa locais, nacionais e estrangeiras têm demonstrado que, quando resultados são adequadamente difundidos, impactam políticas públicas positivamente. Infelizmente, apenas uma pequena parcela desta produção chega à sociedade.

Há um espaço não ocupado para novas pesquisas, utilizando ferramentas tecnológicas já disponíveis, que permitem inovação nas formas de geração de conhecimento científico, e propagação destes ao mercado, afirma Homma.

A ciência aqui produzida, enfatiza Alfredo Homma, tem demonstrado que, não obstante os avanços experimentados, de acordo com  diferentes vertentes relacionadas às funções ecológicas desempenhadas pelos ecossistemas, clima, biodiversidade e diversidade cultural, muitos desses conhecimentos ainda necessitam ser transferidos ao setor produtivo para geração de negócios e renda. Paradigma que, necessariamente, passa pelo estímulo à disseminação de tecnologias ajustadas ao bioma.

A inovação tecnológica tem papel central neste desafio, ao tentar responder às demandas do complexo amazônico e do país, principalmente nas dimensões associadas à segurança alimentar, uso da biotecnologia em processos produtivos, conservação, monitoramento e uso sustentável da biodiversidade.

O Brasil precisa compreender, como ensina Djalma Batista em seu “O complexo da Amazônia”, de 1976, que a floresta, efetivamente, “não deve constituir barreira ao desenvolvimento, porém um dos mais preciosos recursos”. As instituições de Ensino e Pesquisas têm um papel fundamental neste cenário dada sua experiência e o conhecimento científico e tecnológico produzido na região. O desafio consiste em preparar-se para produzir de forma eficaz e eficiente ciência, tecnologia, formação de recursos humanos altamente qualificados e a inovação de tecnologias no contexto da economia verde.

O fato que se mantém desafiador, porém, reside em que a nação continua aguardando do governo políticas públicas de Estado, com alocação de recursos orçamentários ao nível das necessidades do setor, infensos a cortes circunstanciais, bem como marcos regulatórios confiáveis e definitivos que possibilitem a viabilização de um planejamento racional e ajustado às suas assimetrias.

Para o pesquisador e ex-diretor do Inpa, Adalberto Val, do alto de sua vasta experiência em Amazônia, todavia, “o cenário nacional é complicado, mas temos material e informações científicas relevantes para o desenvolvimento sustentável da nossa Amazônia. Aqui, a destruição não é parte da biblioteca de informações científicas robustas sobre o Setentrião brasileiro. A destruição, afinal, gera pouco para poucos e destrói as perspectivas futuras para os amazônidas”.

Manaus, 22 de fevereiro de 2021.

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