Aulas em comunidades ribeirinhas são prejudicadas com seca extrema no Amazonas

Divulgação/FAS

“É a primeira vez desde que cheguei na comunidade que estamos enfrentando uma seca tão atípica”. O relato é de Antônia Madalena Rodrigues, professora na Comunidade do Tumbira, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro, em Iranduba (AM). Ela é uma das 584 mil pessoas impactadas pela estiagem extrema que assola o Amazonas e dificulta o acesso da população a serviços básicos como transporte, saúde e educação.


Segundo dados da Secretaria de Educação do Amazonas, mais de 5,5 mil alunos em comunidades ribeirinhas foram impactados pela vazante dos rios. O acesso até às escolas, geralmente feito por embarcações, fica impossibilitado pelo baixo nível das águas e os estudantes precisam enfrentar longos percursos, passando por barrancos íngremes, para assistirem às aulas. Somado às altas temperaturas comuns nesse período do ano, comparecer às aulas escola se torna um grande desafio para os estudantes.

Segundo Antônia, apenas no Tumbira e comunidades próximas, há mais de 140 alunos impossibilitados de chegar na escola e em seus anexos. Para contornar o cenário, o modelo de aulas remoto e híbrido foi adotado. “Os alunos estão recebendo todo o conteúdo didático, por meio das redes sociais e os professores não medem esforços para interagir e tirar as dúvidas, mas não é a mesma coisa que estar na sala de aula”, relata a professora.

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A estiagem também afeta as atividades em nove Núcleos de Inovação e Educação para Desenvolvimento Sustentável (Nieds) da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), que atendem aproximadamente 850 crianças e adolescentes em mais de 100 comunidades sitiadas em Unidades de Conservação (UCs) do Amazonas. Conforme relata o coordenador dos Nieds pela FAS, Rafael Sales, “como os rios são nossas estradas, o acesso dos comunitários a itens básicos como materiais de higiene, alimentação e combustíveis estão sendo totalmente prejudicados e ficando escassos, pois os itens não chegam nas comunidades, e os comunitários não conseguem sair dos seus locais de morada, assim os alunos não conseguem ir para escolas, ter acesso a compra de remédios e/ou fazer uma consulta médica”.

Dentro dos Nieds, o calendário de aulas em parceria com a secretaria estadual de educação é alternado, com os alunos estudando de forma integral por 15 dias dentro dos núcleos e 15 dias em suas comunidades. Com a seca, muitos jovens não tiveram condições de voltar para suas comunidades de origem e permaneceram nos núcleos da FAS, dormindo nos alojamentos desses espaços, conta Rafael. Para quem não consegue ir e voltar diariamente do Nieds, as gestões locais de educação adotaram um modelo híbrido de aulas e utilizam da criatividade e das parcerias para continuar ofertando educação.

“De segunda a quarta, eles vêm até os núcleos e na quinta, e na sexta-feira, eles ficam em casa com seus exercícios. Estamos trabalhando mais ainda em conjunto com as secretarias de educação, entendendo que o acesso de todas as formas está complicado. Pedimos suporte às pessoas que têm conectividade e acesso à internet para que os alunos possam ter acesso aos deveres de casa. Às vezes, quando passa uma canoa, mesmo com dificuldade, levamos os professores, pedimos para que levem os deveres para os alunos em suas casas, mas entendendo que a situação é bem limitada”, informa o coordenador.

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“Esperamos que as águas voltem a subir para que possamos dar continuidade ao ano letivo e continuar a nossa rotina diária. No Tumbira, até para a gente ir à cidade está muito difícil. Todos os segmentos foram atingidos pela seca. São os médicos que não podem fazer suas visitas periódicas, alunos que não podem ir à escola, transportadores escolares que estão sem seu ganha-pão”, lamenta Antônia.

Uma iniciativa da FAS para lidar com a estiagem sem precedentes é a Aliança Amazônia Clima, realizada por organizações da sociedade civil. A Aliança está mobilizando doações de itens de primeira necessidade e destinando às comunidades mais afetadas pela seca. As doações podem ser entregues na sede da FAS, localizada na Rua Álvaro Braga, 351, bairro Parque Dez, em Manaus (AM). As contribuições financeiras podem ser feitas por meio da chave PIX 03351359000188 – Fundação Amazônia Sustentável e pelo site bit.ly/doe-amazonia.

No último dia 13 de outubro, a iniciativa realizou a entrega de 38 cestas básicas na RDS do Rio Negro que beneficiaram mais de 150 pessoas nas comunidades Santa Helena do Inglês e Saracá.

Sobre os Núcleos de Inovação e Educação para Sustentabilidade

Os Núcleos de Inovação e Educação para Sustentabilidade (Nieds) da FAS são espaços integrados à floresta que levam políticas públicas para a Amazônia profunda. São nove unidades situadas em Unidades de Conservação nos municípios de Manaus, Iranduba, Itapiranga, Uarini, Novo Aripuanã, Carauari e Jutaí.

“Os núcleos estão disponíveis para que as pessoas das comunidades possam ter acesso à educação de qualidade, acesso à conectividade e informação, telessaúde e cursos de qualificação profissional. Além da educação formal, levamos projetos que trabalham o empreendedorismo jovem, incentivo à arte e leitura, e para que juventude possam destacar suas vivências na floresta”, explica Fabiana Cunha, gerente do Programa de Educação para Sustentabilidade (PES) da FAS.

Sobre a FAS

A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia por meio de programas e projetos nas áreas de educação e cidadania, saúde, empoderamento, pesquisa e inovação, conservação ambiental, infraestrutura comunitária, empreendedorismo e geração de renda. A FAS tem como missão contribuir para a conservação do bioma pela valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade e pela melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia. Em 2023, a instituição completa 15 anos de atuação com números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 40% no desmatamento em áreas atendidas entre 2008 e 2021.

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