Blogueiros Corruptos – Por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Havia razões, subjetivas e objetivas, para eu não tratar deste tema. Não é do meu recorte e da minha formação intelectual trabalhar mentalmente roçando os fatos (já disse o poeta francês, “os fatos, ah, os fatos me aborrecem”) que não possuam uma escala de temporalidade mais alongada.


Sinto-me melhor trabalhando com tendências mais ou menos já assentadas no tempo e com possibilidades de realizar comparatividades com outras sociedades e outras culturas. Por outro lado, objetivamente, a imprensa de blogs que tentam manchar o nome de pessoas, em troca de dinheiro, diga-se extorsão, já vai completando muito tempo de intensíssima cobertura por todas as formas de Imprensa e em todos os segmentos dos meios de comunicação de massa.

Por intensidade e por extensividade, a esta altura, as várias audiências e os vários públicos já estão meio como que saturados de tanta cobertura informativa e analítica e de tanta exposição sabidamente mentirosas. Sei que tem de ser assim, inclusive por que para cada dito há um desmentido, e o noticiário e as análises têm de acompanhar o ritmo dos acontecimentos. Estava tentando não desperdiçar este meu espaço aqui com este tema, e cuidando daquilo de que me sinto mais apropriado para escrever. Além do mais, nunca possuí vocação para ser o cidadão indignado, aquele de carteirinha, ou, mesmo, menos que tal.

Hoje, no entanto, rendo-me a um fato de momento, que é a necessidade historicamente crucial de se falar com clareza e seriedade em vez de ficar declarando vagas miudezas, fragmentos de sabão. Faz-se necessário um pronunciamento – no sentido brasileiro do termo, e não na terrível acepção hispânica. Ser um repórter e possuir um blog, como diz um brincalhão conhecido meu, “ou é, ou deixa de é”. Ou, afirmando de modo erudito e acadêmico, citando um dos mais importantes sociólogos em atividade no mundo, o nova-iorquino Immanuel Wallerstein: “O mundo moderno tem sido, ao longo de maior parte da sua história, prisioneiro da doutrina aristotélica do terceiro excluído. Uma coisa é A ou é não-A. Não existe uma terceira possibilidade.”

Intelectualmente e existencialmente eu fujo deste aristotelismo extremamente limitador, tendo já de muito tempo absorvido a ideia de que as coisas e as pessoas podem ser duas coisas diferentes ao mesmo tempo, ou pelo menos podem ser medidas e avaliadas de duas formas diferentes. Quem já leu Marcel Proust entenderá muito bem o que eu estou dizendo. Mas neste momento, angustiante até, de uma crise de extorsão, tem de se impor aos blogueiros, a necessidade de provarem não com artifícios, mas primeiro com a credibilidade que falta a muitos.

Ocorreram determinados fatos, ou não ocorreram; se existiram delinquentes, assediadores ou estupradores, não basta dar os nomes, tem que provar, e alguns blogueiros, desqualificam pessoas eticamente e de maneira rápida e contundente, para pedir dinheiro falando o português claro. Uma pessoa se é realmente honesta e não tem rabo de palha, desvencilha-se de um escroque com duas ou três palavras. A coisa toda é muito chocante para comportar nuances de tratamento.

A sucessão de ditos e de desmentidos já se tornou insuportável para a (in)compreensão da população brasileira, e particularmente a manauara. Lembrem-se de um pequeno poema da Gertrude Stein que diz: “Uma rosa é uma rosa, é uma rosa, é uma rosa.” E pronto. O resto não é silêncio (muito menos dos intelectuais). Então blogueiros de araque deixem de pavulagem, e ajam eticamente, e parem de importunar pessoas que conhecendo a credibilidade de quem os acusa, ainda vão processa-lós.

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