Hoje faço campanha para Haddad, apesar de vir criticando o PT desde 2003. Sei dos muitos problemas do partido, o principal dos quais for ter aderido ás formas tradicionais de fazer politica no país. Mas o PT não inventou a corrupção, não foi o mais corrupto nem liquidou o país. Isso vem de mais longe. Bolsonaro, a sua vez, e a personificação da negação da politica vista como forma civilizada de resolução de conflitos. Eu continuo sem entender como, defendendo a tortura, a ditadura, o preconceito e tudo que representa retrocessos históricos graves, passe a ideia de restaurador de uma ordem… particularmente quando essa ordem nunca existiu.
Me dói, dói mesmo, ver gente de boa fé sendo levada pela má fé dele e de sua desonesta campanha. Vejo regredirmos a um período de trevas em que, ao invés da busca por esclarecimento, preferimos nos atar a confusão de memes, noticias falsa e nenhum debate sobre as reais questões do país. Eu não sou nem nunca fui cabo eleitoral de ninguém em tempo algum.
Não me orgulho disso. Mas sempre agi assim por discordar de muitas das condutas relativas ao que e necessário para vencer eleições. Nunca vi nada tão baixo e desrespeitoso quanto o que vem sendo feito em nome de sua eleição. Não bastassem as ideias e valores que ele defende ainda essa campanha… Por obrigação de oficio, não desconfio da inteligência de ninguém. Mas pela mesma obrigação, procuro entender a relação entre inteligência e autoritarismo.
Bolsonaro representa 21 anos de ditadura. Ele assume isso. Como se pode achar que a salvação do Brasil esta em alguém que cultua o que de pior a sociedade humana já produziu?
Marcelo Seráfico é Doutor em Sociologia, professor do Curso de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
