Caso Marielle complica ainda mais Flávio Bolsonaro

Flávio e Jair Bolsonaro nunca esconderam simpatia por milícias - Foto: Sergio Lima/AFP

Conhecidas por exterminar, torturar, ameaçar, extorquir, lavar dinheiro e cometer uma série de outros crimes contra a população de comunidades, as milícias chegaram ao noticiário nacional e internacional nos últimos dias pelas mãos da família Bolsonaro, que atualmente ocupa cargos em assembleias legislativas, no Congresso Nacional e o cargo público mais importante do Brasil.


Na última terça-feira (22), ao deflagrar a “Operação Os Intocáveis”, na comunidade de Rio das Pedras, na zona oeste do Rio, o Ministério Público e a Polícia Civil mostraram que ex-policiais milicianos são apenas o início de um caminho bem mais tortuoso do crime organizado.

Em novembro do ano passado, o então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que “sem sombra de dúvidas”, a morte da vereadora Marielle Franco (Psol), ocorrida em março de 2018, envolve “milicianos, agentes públicos e políticos”. Mas poucos resultados apareceram depois da declaração.

Nas horas que se seguiram à “Operação Os Intocáveis”, porém, vários fatos vieram à tona. A Polícia e o MP, que investigavam as ações criminosas em Rio das Pedras, chegaram aos chefes da milícia Escritório do Crime, suspeita de envolvimento na morte de Marielle.

Flávio e Jair Bolsonaro nunca esconderam simpatia por milícias – Foto: Sergio Lima/AFP

Novas peças foram formando um ainda nebuloso quebra-cabeças ao longo do dia. Os dois milicianos foram homenageados na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) pelo ex-deputado e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL) com a mais alta honraria do Poder Legislativo do Estado, a Medalha Tiradentes. Quando recebeu a homenagem, o major Ronald já era investigado por participação em uma chacina na Baixada Fluminense.

Ainda na terça-feira (22), a imprensa divulgou a informação de que a mãe e a mulher do miliciano e ex-capitão do Bope Adriano Magalhães trabalharam até novembro passado no gabinete de Flávio Bolsonaro. A mãe, Raimunda Veras Magalhães, tinha salário de R$ 6.490,35 e repassava parte dele para Fabrício Queiroz, o ex-motorista de Flávio que vem sendo apontado como possível “laranja”, termo dado a quem empresta seu nome para ocultar o nome de outro em crimes de lavagem de dinheiro e corrupção.

Segundo o jornal O Globo, Queiroz se escondeu durante duas semanas em Rio das Pedras, quartel-general dos milicianos, quando explodiu em dezembro do ano passado o escândalo dos R$ 7 milhões em movimentações bancárias entre 2014 e 2017, das dezenas de envelopes depositados religiosamente na conta de Flávio e de um cheque de R$ 24 mil destinado à primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Família Bolsonaro e as milícia

Mas a simpatia da família Bolsonaro com a milícia não é uma novidade. Sempre que teve a oportunidade, Jair Bolsonaro, ainda como deputado na Câmara Federal, fez elogios às milícias e afirmou que elas seriam “bem-vindas” no Rio. Flávio foi contra a instauração da CPI das Milícias e foi o único deputado da Alerj a votar contra a concessão da Medalha Tiradentes para Marielle em abril do ano passado.

No perfil de Instagram de Flávio há um registro dele com o pai, Jair Bolsonaro, a tesoureira do PSL e assessora da liderança do partido na Alerj, Valdenice de Oliveira. Ao lado deles estão os irmãos gêmeos da assessora, os PMs Alan e Alex Rodrigues Oliveira. Os dois trabalharam como voluntários na campanha de Flávio e foram presos por crimes como extorsão na Operação Quarto Elemento. “Essa família é nota mil”, comentou o senador eleito.

Presidente da CPI das Milícias quando esteve na Alerj, o deputado federal eleito Marcelo Freixo (Psol) disse que as explicações devem ser dadas não apenas por Flávio, mas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. “Sabe quem indicou a mãe e a mulher do miliciano para o gabinete de Flávio Bolsonaro? Queiroz, o amigo de longa data de Jair Bolsonaro. O presidente também deve explicações à sociedade”.

Nesta terça-feira (22), Flávio voltou a afirmar que sofre perseguição do Ministério Público e que seu sigilo foi quebrado. No entanto, as comunicações entre o Coaf e o MP estão previstas em lei e na jurisprudência e não constituem quebra de sigilo. O MP informa ainda que investiga em condições de igualdade outros citados no relatório.

A defesa de Flávio afirma que ele é investigado enquanto o Ministério Público afirma que o ex-deputado é tratado, na esfera criminal, como testemunha. Essa interpretação pode dar destinos diferentes ao caso. O investigado tem direito de conhecer previamente o processo e tem direito ao silêncio para não produzir provas contra si.

Flávio, que defendeu ao lado do pai o fim do foro privilegiado durante a campanha eleitoral, usou o recurso ao pedir que sua investigação fosse levada para o Supremo Tribunal Federal (STF), onde o ministro Luiz Fux suspendeu o caso. O ministro relator, Marco Aurélio Mello, assume o caso em fevereiro e já adiantou que costuma rejeitar pedidos com argumentos similares.

Jair Bolsonaro discursa em Fórum Econômico Mundial em Davos – Foto: Laurent Gillieron/EFE

Escândalo ofusca Bolsonaro em Davos

A participação do presidente Jair Bolsonaro no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, foi ofuscada pelo escândalo envolvendo sua família. Nesta quarta-feira (23), em entrevista à agência de notícias Bloomberg, o presidente disse que “se por acaso ele [Flávio] errou, e isso for provado, eu lamento como pai, mas ele terá que pagar o preço por essas ações”.

Mais tarde, Bolsonaro cancelou uma coletiva à imprensa internacional, na Suíça, em que participaria com os ministros Paulo Guedes (Economia), Sergio Moro (Justiça) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores). A reação de Bolsonaro surpreendeu até mesmo a organização do Fórum. Um assessor do presidente alegou “comportamento antiprofissional da imprensa”.

Fonte: G1

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