Chefe e líderes – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Tenho pela minha experiência de ter ocupado vários cargos tanto na área privada como pública, e ainda como consultor, analisado vários perfis daqueles que ocupam funções de direção. Os mais talentosos deles atuam como lideres: aproximam e animam as pessoas, buscam fixar novas perspectivas de ação e integração, trabalham para valorizar identidades coletivas e atar os pedaços que a vida foi separando. São construtores organizacionais, fundadores de novos pactos de convivência e atuação. Sob seu comando, as organizações renascem e se lançam com ousadia no mar revolto da concorrência ou da crise.


Conseguem escapar das verdades únicas e rejeitam os gargalos orçamentários, hoje onipresentes, contrapondo a eles não a subserviência, mas a altivez: no lugar de cortes e compressões, buscam aproveitar oportunidades, aumentar o leque de serviços e gerar receita própria de novo tipo. Em suma: em vez de promover adaptações erráticas nas finalidades organizacionais, os dirigentes-líderes sedimentam e reforçam estas finalidades.

Descobrem formas de preservar, atualizar e valorizar as instituições. Governam, não só administram. Mas estes não são o único tipo de dirigente. Fazendo sombra a eles, estão os dirigentes menores: os chefes. Têm pouco amor pelas ideias, mas muita arrogância. Julgam-se predestinados a realizar aquilo que a realidade estaria impondo como “inevitável”. Não dirigem nem desejam fundar nada: apenas ajustam e promovem adaptações.

Suspeitam de visões abrangentes, posturas intelectuais e perspectivas estratégicas, já que se concentram exclusivamente em números e resultados. Seu maior recurso é o poder, sua fé é o mercado, sua grande meta é o ajuste fiscal. Nas mãos dos chefes, as organizações sofrem ainda mais. Esvaziam-se de sentido, de clareza, de fantasia. Vê-se, com facilidade, que por sobre o discurso “racionalizador” continuam a ser praticados atos inteiramente irracionais, movidos a loteamentos, acertos pessoais, gastos descabidos.

As organizações passam a viver de modo esquizofrênico, sem saber se devem seguir suas melhores tradições, as portarias dos superiores ou os descalabros que se sucedem no cotidiano. Perdem a confiança em si mesmas. Os que nelas trabalham entregam-se às novas regras do jogo: começam a ridicularizar os que deveriam dirigi-las mas não o fazem, boicotam a instituição e buscam se viabilizar fora dela. Instaura-se o caos. Trata-se de um estilo de gestão que alça vôo embalado pela força das coisas. O mundo do futuro pede dirigentes que ajam como líderes, mas o mundo do presente faz com que os chefes preponderem.

É uma vitória da razão instrumental sobre a razão crítica. Desaparecem a utopia, a vontade e a paixão. O horizonte fica embaçado. Com a preponderância dos chefes sobre os líderes, legitima-se um discurso gerencial. Seu léxico é codificado, o estilo é paupérrimo. Neste ponto, desfazem-se todas as máscaras e sobra apenas a face triste da racionalização.

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