[Crônica] Cidadão da Civilização Coisa – por Isabela Abes Casaca

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E nesse mundoido é um salve-se quem puder…

Baixas horas da madrugada, o relógio acusa duas a.m, insone está um cidadão em sua casa, em frente à televisão, com um computador na mão, a consciência acusa a sua solidão, não tem esposa, não tem filhos, nem ao menos namorada.

Seu cérebro está amortecido numa almofada, seu coração adormecido numa bacia de gelo, sua consciência confortavelmente entorpecida… É uma zona de conforto, pra que sair dela…? Porém o relógio acusa duas da madrugada, entretanto a insônia acusa a solidão amargurada, todavia a consciência acusa baixinho “alguma coisa está errada”…

Surge então nas telas um comercial, o cidadão desvia seu foco, presta toda atenção nas imagens projetadas, nas imagens estão diluidos símbolos deveras mal empregados… Por trás do gritante marketing e da gritante solidão, ecoa uma mensagem na frequência de som subliminar, só os ouvidos aguçados escutam o cumprimento de onda sussurrante…

She’s not a girl who misses much, do do do do do do, oh, yeah, she’s well acquainted with the touch of the velvet hand, like a lizard on a window pane…

Surge na tela uma moça de passos e movimentos certeiros, ela não vacila em momento nenhum, com seu toque sedutor acaricia as personalidades solitárias, é a princesa das propagandas, versátil, topa qualquer papel cênico, como um lagarto que troca de pele ou um camaleão que se camufla…

The man in the crowd with the multicoloured mirrors, on his hobnail boots, lying with his eyes while his hands are busy, working overtime…

Surge na tela um cara, junto com uma multidão juvenil, desfilam suas vaidades, corpos milimetricamente esculpidos por supinos, bisturis e photoshop, sorrisos plastificados, seus olhos dissimulam, pois suas mãos estão ocupadas contanto a grana da hora-extra daquele trabalho…

A soap impression of his wife which he ate and donated to the Nation Trust…

Na tela se aproxima a hora de vender um ícone cultural vazio, uma banalidade qualquer, uma futilidade quase que indispensável para os lábios salivantes e corações sedentos por alguma emoção, por algum propósito, por alguma felicidade, por algum amor… Na vida…

I need a fix, cause I’m going down…

A boca do cidadão saliva…

Down to the bits that I left uptown…

A consciência acusa novamente os pedaços de solidão… O vazio do coração…

I need a fix, cause I’m going down…

A boca saliva acusando a fome, a consciência acusa… Acusa? A boca saliva…

Mother Superior jump the gun…

A grande celebridade inanimada aparece na tela!!! A grande celebridade inanimada aparece gigantesca na tela, com suas cores quentes e vibrantes, com seu sabor e cheiro convidativo, hipnotiza.

… Mother Superior jump the gun … Mother Superior jump the gun … Mother Superior jump the gun … Mother Superior jump the gun …

A grande celebridade inanimada aparece na tela! A grande celebridade inanimada aparece na tela! A grande celebridade inanimada aparece na tela! A grande celebridade inanimada aparece na tela! Vai crescendo, crescendo, crescendo… Oh, ele precisa de um gole, oh, como ele precisa de um gole…

Mother Superior jump the gun…

Ele precisa de um gole, busca uma latinha, como aquela coisa pode ser tão gigantesca na tela e tão pequena na mão? A boca saliva, a consciência acusou a solidão, prevaleceu à estomacal satisfação, (time to escape…) hora de fugir do coração… Ao longe o som continua sussurrando na frequência de ondas subliminar…

Happiness is a warm gun…

A propaganda ecoa frases, frases, frases e mais frases, cujo lema é felicidade…

Happiness is a warm gun, mama…

O cidadão abre a lata e bebe avido o objeto de sua veneração… Como é bom…

When I hold you in my arms and I feel my finger on your trigger, I know nobody can do me no harm, because happiness is a warm gun, mama, happiness is a warm gun, Yes, it is, happiness is a warm, yes, it is, gun, don’t you know that happiness is a warm gun, mama…

A consciência não acusa mais nada…

Que sensação maravilhosa…

Quando tem esta bebida em suas mãos, tem a felicidade instantânea ao alcance do toque dos seus dedos, do seu abraço receptivo, sabe que é o maioral, sente-se mais legal (cool…), faz parte daquele mundo ideal, sente-se igual àquelas marionetes no comercial…

Termina de beber a latinha de petróleo adocicado… Ah… É isso aí… (so much better…) Esqueceu-se da solidão, esqueceu-se do que coração pedia, esqueceu-se do coração partido… (it’s alright mama…) Tudo que precisava era de um gole de felicidade instantânea enlatada em alumínio descartável… Sim… Quem precisa de alguém, quando basta-se a si mesmo…

Mother Superior jump the gun, happiness is a warm gun…

Assim permanece o cidadão da civilização coisa…

Mais uma dose? Mais uma dose? Mais uma dose?

É claro que ele está afim, as noites nunca tem fim…!

???Por que é assim???

E nesse mundoido é um salva-se quem puder…

E nesse mundo é um salva-se quem quiser!

meh.ro10270

 

[author image=”http://oi59.tinypic.com/md2p28.jpg” ]Isabela Abes Casaca é graduanda em Direito e integrante do movimento Novo Ágora. Considera-se escritora amadora.[/author]

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