Dilma sitiada (Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo(Am)
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A situação do governo Dilma vai de mal a pior. Caso contrário, o calejado presidente do Senado, Renan Calheiros, adesista histórico, não teria dito o que disse. A despeito de sua biografia política, o que em princípio o desqualificaria, não faltou à verdade, em nenhum momento. A presidente não falou porque não tinha nada o que falar aos trabalhadores, neste 1º de maio.


E, ao lembrar o panelaço do Dia Internacional da Mulher contra o discurso de Dilma em cadeia nacional de televisão, o senador alagoano acrescentou que “não há nada pior do que a paralisia, do que a falta de iniciativa, do que o vazio”, ressaltando que é preciso “ouvir o que as panelas dizem”. Assim, não poderia ser mais frontal, quando admitiu que a presidente correu, escafedeu-se, temendo um novo protesto de panelas vazias, que mais uma vez teria lugar nas principais cidades do país, no exato instante em que falasse à Nação.

Em seguida, mantendo o mesmo tom, não poupou o vice-presidente Michel Temer, companheiro de PMDB, nomeado coordenador político do governo. Implacável, reclamou contra o aparelhamento do Estado, agora, quem diria!, promovido pelo partido do velho Ulysses Guimarães. Substitui o PT no que os petistas têm de pior, o fisiologismo escancarado, numa “articulação de RH para distribuir cargos e boquinhas”, segundo o senador. Mas, ainda foi além. Na contramão do ajuste fiscal do governo, propôs a formação de um pacto em defesa do emprego dos trabalhadores, os maiores prejudicados pelo projeto de reorientação da economia.

Como se vê, nenhum oposicionista, no Congresso ou fora dele, faria discurso mais incisivo do que o antigo representante da “República das Alagoas”, dia a dia mais distante do Planalto, ciente de que daquele mato não sairá mais nenhum coelho vivo. Por sinal, que arremedo caricato de oposição, sempre ausente e inepta, despida de qualquer liderança afirmativa. Agora mesmo, em programa de televisão, o PT diz que “(colocou) mais gente na cadeia por corrupção do que os outros governos”, sem que a oposição postule sequer a retirada do ar de tamanho disparate, como seria de seu dever. Trata-se, como é evidente, de propaganda enganosa, mentirosa, porquanto o PT jamais levou qualquer corrupto à prisão. Quem denunciou foi o Ministério Público e quem condenou foi o Supremo Tribunal Federal, em decisão que pôs na cadeia as maiores expressões do lulopetismo, como Dirceu, Genoíno, Delúbio e caterva. E a oposição cala, não contesta, não dá uma palavra, por incrível que pareça, omitindo-se na apuração das responsabilidades legais do partido de Lula e de sua direção.

Bem, mas voltando ao tema central, o governo Dilma, como os fatos demonstram, exauriu-se de vez. Ao transferir o poder, no plano econômico, para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e para o vice-presidente, Michel Temer, no plano político, a presidente não mais governa. Isolada e fragilizada, vive aos gritos com seus auxiliares mais próximos, obrigados a suportar os seus achaques diários. Do outro lado da Praça dos Três Poderes, numa espécie de parlamentarismo de araque ou às avessas, dão as cartas os senhores que comandam a Câmara e o Senado, com procedimentos que têm conduzido o governo a derrotas parlamentares. Na inversão do poder, explica-se a virulência das críticas diretas e outras orquestradas por Renan Calheiros, no mesmo ritmo das atitudes de confronto permanente de Eduardo Cunha com as demandas do lulopetismo decadente.

Dilma hoje encontra-se sitiada no Palácio do Planalto e no Alvorada. Não tem como chegar às ruas e praças do Brasil, sem expor-se aos protestos e apupos da população. Ninguém aguenta mais tanto despreparo, em meio a uma crise de governabilidade de largas proporções, como nunca se viu na história desse país, repetindo o pobre bordão do metalúrgico. Procedem, portanto, as reprimendas duras de Renan, formuladas, pouco importa, com ou sem interesses subalternos e inconfessáveis. O governo ingressou numa espécie de redemoinho autofágico, do qual não conseguirá sair, como indicam os acontecimentos, com projeção sobre mais quatro longos e penosos anos de paralisia ou atraso.

No Dia do Trabalhador, Dilma violou uma tradição da República. Deixou de fazer o esperado pronunciamento presidencial em comemoração a data e preferiu esconder-se por trás das colunas de seus palácios brasilienses. Fez-se ouvir apenas via blogueiros amestrados e nas páginas oficiais de seu governo na internet, com mensagens insossas, canhestras e inconvincentes, indignas da homenagem que seria devida aos trabalhadores. Refugia-se no medo do povo, no medo da insubmissão social das multidões. E o medo não nunca foi um bom conselheiro.( Paulo Figueiredo – advogado, escritor e comentarista político – [email protected])

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