Escravos negros, escravos brancos e de todas as cores e sexo

O mundo se esqueceu que os negros escravizaram brancos europeus por séculos - foto: ilustração

Escravos existiram de todas as cores e sexos, na maior parte do mundo, e até o final do século XX ainda havia escravos na Mauritania, que a aboliu em 1980. A Arábia Saudita só aboliu a escravidão em 1962.


Enquanto no ocidente o Brasil foi o último país a aboli-la, em 1888, na África e na Asia ela continuou firme e forte século XX adentro. E, embora não tenha mais em nenhum país suporte legal, a escravização de pessoas é uma prática criminosa comum em todas as partes do mundo até os dias de hoje.

A grande questão é que os escravos europeus, árabes, africanos ou asiáticos, quando escravizados por seus semelhantes fisicamente, uma vez livres, em algumas gerações já se confundiam como restante da população, visto que na Europa a maioria dos escravos era branca, na África era negra e na Ásia, oriental.

Por que as pessoas frequentemente parecem esquecer a escravidão branca? – foto: ilustração/Quora
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Aos poucos a escravidão na Europa foi sendo substituída pela servidao e depois pelo trabalho assalariado. No século XVIII, no alvorescer da Revolução industrial, até o final da segunda guerra mundial, a Europa iria utilizar de todos os meios, pacíficos ou violentos, para banir de vez o trabalho escravo no mundo.

Porém, na época colonial, séculos XVI a XIX, devido ao imenso mercado de escravos existente na África, que ficava logo ali perto da Europa, os colonizadores acharam fácil utilizar essa mão de obra disponível para cultivar as terras da América, que adquiriu uma escala econômica nunca antes vista. Não se capturavam africanos livres, mas se compravam aqueles que foram escravizados segundo as leis locais, seja porque eram prisioneiros de guerra, seja porque sofreram alguma condenação por crime.

Escravos europeus – foto: recorte/divulgação

O desenvolvimento do direito na Europa impedia que prisioneiros de guerra ou condenados fossem escravizados, coisa que não ocorria na África. Por outro lado, os europeus não eram aptos ao trabalho braçal em terras tropicais como os africanos, e por isso a imigração não foi uma solucao. A América somente receberia imigrantes europeus em massa quando a tecnologia e a medicina propiciaram sua adaptação aos trópicos.

Também se vendiam escravos na peninsula arábica e na China, mas as dificuldades logísticas tornavam essa aquisição proibitiva. A África tinha localização estratégica, e precisava da tecnologia europeia, em especial a bélica, que trocava por escravos.

Quando os escravos africanos eram libertados na América, a cor de sua pele ficava como uma marca indelével de sua origem, que dificultava sua inserção social plena. Por isso hoje se fala ainda na escravidão colonial e se associa os negros à escravidão. Na África houve muito mais negros escravizados e por muito mas tempo que na América, porém, ao serem libertados, se confundiram com o restante da população, como antes ocorrera com os europeus nos tempos dos imperios romano e russo.

E o fato de os Estados escravistas africanos terem sido depois vítimas do imperialismo europeu (que usou como uma das suas justificativas morais o combate à escravidão local), serviu como um álibi para tirar deles essa carga histórica negativa e deixá-la exclusivamente com os europeus.

A maioria das pessoas no mundo todo tem um antepassado que foi escravizado, mas é na América que essa questão ultrapassou o seu tempo histórico e ainda é vista como um problema presente. Se os escravos não fossem negros, mas brancos, supondo-se que fosse mais fácil comprá-los no império turco, onde se vendiam escravos da região da Europa oriental, dificilmente teria sentido falar-se em “racismo”, mesmo que os descendentes dos escravizados vivessem em condições sociais inferiores, pois seria mais difícil individualizá-los. A escravidão colonial seria tema limitado aos livros de história. Ou, talvez, se a China fosse mais próxima e o comércio se desse com os chineses, os orientais fossem associados à escravatura ao invés dos negros.

Mas, por questões meramente logísticas, não foi assim, e quaisquer teorias que tenham sido criadas para justificar a “bárbara instituição”, queriam apenas dar suporte intelectual a um fato consumado.

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