Fenômeno Collor pode se repetir com Bolsonaro

Carta-bomba divulgada por Jair Bolsonaro indica perda total de rumo de sua gestão/Foto: Reprodução/Internet

Por Gilberto Maringoni e redação Correio


A semana termina movimentada. A carta-bomba divulgada ontem sexta (17) por Jair Bolsonaro indica perda total de rumo de sua gestão. O vai-e-volta na decisão de passar o facão na Educação e uma viagem-fuga a Dallas completam o diagnóstico de um mandatário que se exilou mentalmente num mundo paralelo. Mas Bolsonaro foi além: decidiu xingar a massa.

Nem mesmo João Baptista Figueiredo fez isso nos estertores da ditadura militar. Ao ser informado que o comício das Diretas já! teria levado um milhão de pessoas ao Anhangabaú (SP), em abril de 1984, o general confidenciou a um interlocutor: “Isso é porque eu não estava lá. Se estivesse, seriam um milhão e um”. Figueiredo era tido como bronco e tosco. Mas não botava sorvete na testa.

Marcha em Brasília

Nesse contexto e não se sabendo de quem partiu a ideia, mais uma vez, bolsonaristas estão convocando o povo para ir às ruas de Verde e Amarelo, no próximo dia 26 de Maio, para tentar mudar o rumo da onda de descrédito que se instalou no governo do Capitão.

A Marcha a Brasília, como está sendo intitulada, tem a finalidade de levar uma multidão às ruas do Brasil, em todas as capitais na última tentativa de apoio a Bolsonaro, algo semelhante ao que aconteceu no governo meteórico de Fernando Collor de Melo, eleito para presidente nas eleições de 1989 a 1992.

Collor teria convocado os jovens irem às ruas de Verde e Amarelo em uma grande manifestação de apoio ao seu governo e, com isso evitar o impeachment. Os jovens, trabalhadores, adultos, crianças atenderam ao chamado, mas todos indo com Vestimentas Negras, em sinal de Luto.

Manifestações

Em agosto de 1992, começam a ser feitas grandes passeatas, reunindo inicialmente 10 mil pessoas, depois 30 mil, até chegar à marca de 400 mil pessoas em uma passeata em São Paulo, no dia 25 de agosto de 1992.

Uma das manifestações mais marcantes ocorreu no dia 16 de agosto 1992, dois dias depois de Collor aparecer em cadeia nacional para pedir que o povo fosse às ruas de verde e amarelo para defender seu governo. Não colou: os manifestantes apareceram de preto, em sinal de luto pelos escândalos de corrupção do governo.

Foi nesse contexto que surgiram os caras-pintadas, um movimento essencialmente estudantil, promovido principalmente pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela União Brasileira dos Secundaristas (UBES). O movimento tinha um objetivo bem claro: remover o presidente do poder.

Em agosto de 1992, começam a ser feitas grandes passeatas, reunindo inicialmente 10 mil pessoas, depois 30 mil, até chegar à marca de 400 mil pessoas em uma passeata em São Paulo, no dia 25 de agosto.

Collor resolveu renunciar ao cargo, no dia 29 de dezembro de 1992, para evitar a inelegibilidade nos oito anos seguintes.

Vale sempre lembra

O moralismo rasteiro, turbinado pela Lava-Jato, foi uma carta-programa informal mas efetiva de campanha. “Nova política” e honestidade de fancaria serviram de argumento a todos os que repudiavam “a volta do PT”.

No que toca ao vastíssimo leque de prejudicados, é essencial impulsionar as mobilizações, com vistas ao 30 de maio e ao 14 de junho. Isso implica centrar fogo nos cortes de verbas que precarizam serviços públicos e na reforma da Previdência.

Para os setores populares, colocar impeachment em pauta é algo insensato, até porque parte da coalizão – militares e possivelmente o mercado – começam a desenhar tal solução. É rota certa para Mourão assumir o cargo. Viria aí o autoritarismo e o neoliberalismo palatáveis e sem ruído entre os de cima.

A chance de Bolsonaro cair e novas eleições serem convocadas é praticamente zero. A Constituição não define se a chapa toda ou apenas o titular serão destituídos em caso de impedimento a essa altura do campeonato.

Falando português claro: impeachment é hoje bandeira da direita!

O campo popular e progressista perdeu as eleições. Não conseguiu ainda organizar uma oposição a altura das necessidades do país, que impeça o desmonte do Estado e a entrega do país. A tarefa agora é acumular forças nas pautas próprias do movimento social. Ir aos quartéis articular o que quer que seja representa neste momento rota suicida é oportunismo de quinta categoria.

O presidente foi e voltou a Dallas. Não desfilou em carro aberto e nem correu riscos maiores do que pagar mico de grandes proporções. Os petardos contra ele e seu governo partiram daqui mesmo.

 

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