A Força dos Desejos – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é professor universitário e consultor de empresas.

Nunca o desejo de bem-estar foi tão forte. Pessoas e sociedades sonham cada vez mais com avanços e redenções. Só que na vida real a felicidade parece cada vez mais difícil de ser alcançada. Ninguém se compraz por muito tempo com o alívio causado pela superação de algumas dificuldades. Por isso, o desafio é determinar o que fazer para aperfeiçoar de modo constante e sustentável o estado material e espiritual da Humanidade.


O problema é que não basta querer; é preciso também saber como chegar a melhores resultados. Não adianta imaginar perfeições paradisíacas sem saber como conquistá-las. Igualmente inútil é conhecer o caminho sem ter a tenacidade para trilhá-lo enfrentando seus percalços. As sociedades só conseguem se aperfeiçoar quando suas instituições, preocupadas em gerar um todo harmonioso, oferecem aos indivíduos condições propícias ao desabrochamento e à realização de suas potencialidades. Como o entendimento é precário e os desejos, ilimitados, o ideal está crescentemente se descolando da realidade.

Todos temos, independentemente de grau de instrução, diminuta compreensão do mundo e de nós mesmos. E, no entanto, nos sentimos capazes de controlar as situações e ditar o rumo dos acontecimentos. Falamos como se tivéssemos perfeito conhecimento dos fenômenos psicológicos e sociais. E agimos sem ciência como mãos tateantes que procuram objetos no escuro. A falta de saber tira da ação o poder de perseguir com eficiência melhores resultados. A busca do ideal deve se basear nas potencialidades que o real oferece, não em sua negação. A pseudo-sabedoria estimula a expansão da vontade cega que atropela os objetivos na ânsia de atingi-los. Brandindo a mais reles teoria da conspiração, todo mundo se acha em condições de proclamar verdades sobre as mais intrincadas matérias.

Flávio Lauria é professor universitário e consultor de empresas.

Nas lutas pelo poder se explora, de forma cada vez mais cínica, o abismo entre os desejos e o entendimento do homem comum. Mesmo sem saber como funciona a máquina do mundo, os demagogos aproveitam-se do infortúnio alheio apresentando-se como semideuses capazes de tudo mudar. Prometem, para ter (mais) poder, um mundo melhor sem saber o que faz a dura realidade ser o que é. Manipulando as massas, ocultam o vazio intelectual com a retórica genérica de que um outro mundo é possível.

As decisões fundamentais continuam sendo tomadas por governantes despreparados que nem sequer têm noção de quão complexas são as situações corriqueiras que administram. E para piorar registra-se a fragmentação da “vontade geral” com a ênfase recaindo cada vez mais sobre os grupos de interesse. Os fins da política se deslocam, de modo alarmante, dos indivíduos para os grupos e as etnias. E isto aumenta a distância entre as pessoas a ponto de impedir que haja um acordo fundamental em torno dos direitos e dos deveres de todos.

Estamos todos, indivíduos e sociedades, atrás de desejos que não sabemos como realizar. Vivemos acima de nossas possibilidades porque agimos sem a devida compreensão de nós mesmos e dos outros; e aquém de nossas possibilidades, porque estamos longe de tornar realidade nossos mais caros desejos. Os desejos são luzes que, bruxuleantes na imensidão, estimulam o pe nsamento a descobrir novos caminhos em continuação aos conhecidos ou na direção contrária dos percorridos.

Flávio Lauria Professor Universitário e Consultor de Empresas [email protected]

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