Lula no centro dos protestos (Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo(AM)

Os movimentos de rua de domingo passado foram marcados pela presença de imagens de Lula no centro das manifestações e pelas homenagens prestadas ao juiz Sérgio Moro. Lula surgiu na figura de um boneco enorme, com roupa de presidiário, na Esplanada dos Ministérios em Brasília. Sérgio Moro foi reverenciado como orgulho do povo brasileiro, com centenas de faixas e cartazes, em contraposição ao “herói do povo brasileiro”, como José Dirceu foi tratado pelos petistas, ao caminhar para a prisão, condenado pelo STF no caso do Mensalão. Aplausos entusiásticos para o magistrado por sua atuação na direção dos processos da Lava Jato.
A situação de Lula agrava-se dia a dia. Acaba de aparecer em gravação feita pela Polícia Federal, em conversa com Alexandrino Alencar, diretor da Odebrecht preso em Curitiba. O diálogo entre os dois, que viajaram juntos pelo mundo como lobistas da empresa, é íntimo e promíscuo, altamente comprometedor. Na gravação, Lula revela-se preocupado com o BNDES e seus empréstimos bilionários a clientes apadrinhados pelo poder, dentre os quais destaca-se a indefectível Odebrecht. O antigo metalúrgico também informa que encomendou artigo ao economista Delfim Netto, a ser publicado no dia seguinte, sobre a necessidade de manter-se em sigilo os financiamentos operados pelo banco com recursos do erário. Ainda hoje, trata-se de uma caixa-preta, que esconde uma sucessão de negócios escusos, celebrados à sombra da corrupção. Tem-se igualmente exposto parte dos intestinos do Instituto Lula, mantido por empreiteiras beneficiadas com contratos vultosos com o governo, via participação de Marta Pacheco Kramer, funcionária da Odebrecht e posta a serviço da entidade, símbolo do lulopetismo. E a relação mostra-se ainda mais profunda, quando Lula toma conhecimento da avaliação positiva de Emílio Odebrecht, dirigente maior da empresa, a respeito das justificativas do Instituto sobre as doações recebidas da Camargo Corrêa, em valores próximos de cinco milhões de reais. É claro que quem aplaude tem o direito natural de condenar.


Portanto, diante dos fatos – e fatos são fatos –, o antigo metalúrgico não tinha como escapar do núcleo das passeatas. Em seu peito, a inscrição dos números 13 e 171. 13, o número do PT, e 171, o mais conhecido artigo do Código Penal, que trata do estelionato e outras fraudes, à farta na última campanha eleitoral. É hoje identificado como “capo di tutti capi”, o chefe de todos os chefes dos esquemas delituosos. E, como tal, passou a ser visto pela população. Agora, envolvido no escândalo da Petrobras, põe finalmente as unhas de fora nos negócios nebulosos praticados pelo BNDES, sob o crivo de investigação em curso no Congresso Nacional, que se augura não termine mais uma vez em pizza.

Embora haja tanto desencanto, o Brasil contra o governo Dilma e o PT esteve nas ruas. O brasileiro não perdeu a esperança, é de sua profissão, como dizia nosso saudoso Antônio Maria. O medo não conseguirá abater as forças pulsantes da nacionalidade. Muito antes do que imaginam, os predadores lulopetistas encastelados no Estado serão derrotados, por meio de instrumentos legais e constitucionais vigentes, pelo impeachment da atual presidente, defendido por mais de 2/3 da sociedade, ou em eleições democráticas e livres.

No primeiro momento, pela palavra de seu porta-voz, o governo considerou normal a manifestação popular de protesto. É bem verdade que somente para inglês ver, porquanto já preparava a resposta que viria na quinta-feira seguinte, com movimentos públicos pró-Dilma, patrocinados por entidades sindicais e estudantis cooptadas e adestradas.  Com o “Fica Dilma” (fica aonde e por quê? Na presidência, para acabar de destruir o país), pretendeu-se estabelecer um confronto com o “Fora Dilma”, sustentando-se também o não ao impeachment e a defesa da democracia.  Um discurso diversionista, porque o impedimento presidencial tem previsão constitucional e o que ameaça a democracia é a corrupção petista e o aparelhamento do Estado pela companheirada.

A movimentação lulopetista foi um fiasco, as reuniões exibiram números ridículos de participantes, em encontros financiados com recursos de organizações atreladas ao poder público. Sem clima para maiores investidas em cima dos protestos da população contra a corrupção e a incompetência do governo e do partido que o representa, apresentaram uma réplica do boneco de Lula, vestido de presidiário, com a cara do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha. Com falta de imaginação e criatividade, apelaram com a imagem desgastada do deputado fluminense, posto em situação de extrema dificuldade, denunciado pela prática dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro pelo Ministério Público Federal. Um ato falho, quem sabe, diante das circunstâncias e identidades entre personagens notórios, presentes de corpo e alma nas investigações da Lava Jato.(Paulo Figueiredo – advogado, escritor e comentarista político – [email protected])

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