Maverick- por Valdir Fachini

Articulista Valdir Fachini (SP)

Quem me via passeando naquele carrão, pensava que eu era filho de algum bacana, de algum empresário, político, um riquinho metido a besta que morava num bairro chique, só que mal sabiam que eu não tinha um gato pra puxar pro rabo.


Mas eu era bom de gogó e consegui ganhar a Demervalda, morena do outro mundo, de um cabelão liso e comprido, parecia uma índia, só que ela já tinha um cacique, ela namorava um velho bem mais velho que ela.

O coroa não era rico, mas fazia das tripas coração pra agradar aquela deusa, inclusive aquele carro que ele deu pra ela.

Ele comprou a prestação, pagava uma nota preta por mês, abastecia,trocava pneu, arrumava os freios, deixava o Maverick sempre nos trinques, ainda dava jóias, roupas de marca, não deixava a dispensa vazia, só não deu celular e tv de plasma porque na época não existia.

Toda noite, lá pelas 10,30h. eu ficava na esquina atras do toco, só de butuca, esperando aquele vulto velho sair da casa dela (eu sempre tive a impressão que já conhecia aqueles passos de algum lugar do passado ou do presente, sei lá ) então eu ficava todo serelepe, agora é a minha vez, vou me fartar.

O travesseiro dela ainda tinha o calor do coroa e aquele cheiro de suor, que nada me tirava da cabeça que era conhecido.

Eu era feliz namorando a namorada do velho, eu não tava nem ai e ainda ganhava presente comprado com o dinheiro do ancião galhudo.

Pra mim, não importava se o nome dele era João, Antonio ou Haroldo, se tinha filhos, esposa, meu negócio era me esbaldar nos braços da morena que ele achava que era só dele, comer os chocolates que ele levava e dar uns rolês no Maverick que ele comprou pra ela.

Durante algum tempo foi desse jeito, ele saindo eu entrando, ele gastando, eu usufruindo.

Articulista Valdir Fachini (SP)

Uma tarde quente de domingo, depois de uma bela feijoada na casa da Demê,, depois de um lovezinho gostoso, ela pegou no sono e eu muito incherido, peguei o Maverickão v8, motor canadense, rodona de liga leve e fui me esnobar pra minha família.

A mãe quando viu aquela máquina, não quiz nem saber de quem era, já quis dar uma volta, minhas irmãs ficaram doidas, queriam saber se era de algum amigo pra dar mole pra ele.

Meu pai quando viu, arregalou os olhos de uma tal maneira que ficou parecendo um ET e insistiu pra que eu dissesse de quem era e eu falei que o carro era de uma namorada, que ela tinha ganho de um velho chifrudo e tonto que tambem era namorado dela.

E pra me sentir mais vitorioso ainda, falei que o coroa idiota dava do bom e do melhor pra ela, mas ela não tava nem aí com ele, mas me tratava igual a um príncipe com o dinheiro do trouxa.

Eu acho que meu pai não gostou da minha explicação, porque na hora, ele me expulsou de casa, jogou minhas roupas na rua e disse que eu não tinha mais mesada.

Quando fui devolver o carro, a Demê me mandou deixar o carro e ir embora rápido, porque a múmia ambulante avisou que estava chegando e pelo jeito estava puto da vida.

As 10,30h. mais ou menos, o veterano foi embora, mas dessa vez levou o Maverick.

Vi quando a morena saiu lá fora gritando e xingando o Matusalem, estava com o olho roxo e a cara inchada.

Até hoje eu não sei o que aconteceu, tambem não sei onde meu pai arranjou dinheiro pra comprar aquele Maverick, justo aquele.

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