Momento de Alerta — por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Com o término da CPI da Pandemia, começamos a sentir que nunca estivemos tão indignados, com a morte de mais de seiscentas mil vidas, onde pelo menos duzentas mil poderiam terem sido poupadas, mas, sempre estivemos sendo roubados, surrupiados em nossos direitos mais básicos de viver dignamente, com trabalho e remuneração merecidos. E, assim, temos vivido todos esses anos sendo inteligentemente conduzidos à omissão, à alienação, movidos a samba, Carnaval, mulatas e futebol. Com isso, não percebemos os crimes que têm sido praticados no País: cortes de verbas para saúde, educação, segurança, desvios de merenda escolar, salários aviltantes dos professores e a transformação da educação superior em negócio lucrativo, fábrica de vender diplomas.


Para os poderosos e corruptos, esse é o melhor dos mundos. A crise pegou o governo fragilizado e embevecido pelo poder, trazendo desconforto e indignação geral. É preciso que estejamos sintonizados com os fatos. É a nossa oportunidade de ficar sabendo, tomar ciência e consciência deles. Nutro esperança, tímida que seja, de que estamos sendo despertados no momento certo.

Afinal, o Brasil tem 40% de sua população de jovens de 15 a 29 anos, significando que, nos próximos dez ou 15 anos, serão esses jovens a conduzir a nação. A eles, caberão as mudanças necessárias, e é neles que devemos investir esforços, educação e esperança. A crise é do sistema, ela é cultural e endêmica. É claro que não é nada agradável viver esse momento. Como o escravo que era açoitado, com as mãos e pés atados ao tronco, estamos sendo açoitados moralmente, sem poder de ação, a cada nova falcatrua revelada. Mas, mesmo que com um atraso de 500 anos, não seria essa crise a grande oportunidade para acordar e mudar o País? Mesmo continuando a vestir nossas crianças com uniformes de times de futebol, levá-las aos estádios, aos testes para modelos e às festas, não poderíamos, também, educar, investir nessas crianças, educando-as, contando-lhes honestamente o que está acontecendo, reconhecendo humildemente o porquê das nossas escolhas erradas, analisando as razões da nossa passividade histórica e cultural e chamando-as para um mundo mais crítico, menos conformado e menos omisso? A curto prazo, esperamos punição aos culpados; a médio, busquemos a solução na educação, que começa em casa, com nossos exemplos, posturas e ações.

Mesmo sabendo que as CPIs sempre acabam em pizza, em termos de punição, vejamos o seu lado positivo, que é revelar segredos escusos, transações duvidosas, desfazer mitos e ídolos, tornando-nos mais conscientes. É importante ficarmos alertas para que esse momento não seja transformado em problema partidário. As investigações precisam ir mais a fundo, envolver outros partidos e políticos de todos os estados que se têm locupletado farta e historicamente das benesses do poder. Parafraseando Shakespeare, há muitos mais segredos e sujeira debaixo do tapete que cobre a história do País do que pode imaginar a nossa vã filosofia!

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