Museu Goeldi sangra – Por Osíris Silva

Escritor e economista Osíris Silva/Foto: Divulgação

Criado em 1866 pelo governo Imperial, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) é uma das vítimas mais ilustres da política de cortes de verbas para ciência e tecnologia. Vinculado diretamente ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em mais de 150 anos de atuação é considerado responsável pelo primeiro projeto científico nacional de estudo da Amazônia. Nesse sentido, de acordo com o site do MPEG, “para compreender a história natural, a diversidade biológica e os sistemas socioculturais da região megadiversa, o Museu percorre todos os estados da Amazônia (e suas fronteiras). O resultado da constante pesquisa de campo é a constituição de 17 importantes acervos no campo da etnografia, Arqueologia, linguística, zoologia, botânica, minerais, rochas, fósseis, bibliográficos e documentais. As coleções do Goeldi reúnem mais de 4, 5 milhões de itens tombados, sendo alguns deles considerados ícones da cultura nacional. Os acervos são testemunhos do passado e do presente, uma fonte de informação essencial para a evolução do conhecimento e o desenvolvimento regional”.


Nada obstante a importância da instituição, o Museu Goeldi vive a maior crise financeira de sua história. São de tal ordem as restrições que a diretoria divulgou uma carta aberta à sociedade em que explica as dificuldades orçamentárias enfrentadas. O documento informa que, de um orçamento previsto de R$ 12 milhões e 700 mil reais, para 2017, com o corte de 44%, quase metade da verba, restou um saldo orçamentário de R$ 7 milhões e 100 mil para o corrente ano. Mesmo submetido a uma política de “corte de gastos” que vem sendo implementada desde 2015 e atuando em “condições absolutamente mínimas”, o Museu “utilizou nos primeiros 8 meses de 2017 cerca de R$ 5,6 milhões”.

Em decorrência do déficit orçamentário, a diretoria do Museu Goeldi, se não recomposto seu orçamento, seria forçada, conforme informado na Carta, a fechar duas bases essenciais da instituição: o Parque Zoobotânico, que recebe 400 mil turistas por ano; e a Estação Científica Ferreira Pena, localizada no completo do Marajó, que sedia pesquisas de longo prazo sobre monitoramento e avaliação da biodiversidade amazônica.

Escritor e economista Osíris/Foto: Divulgação

De acordo com a assessoria de imprensa do Goeldi, o Parque Zoobotânico, criado em 1895, localiza-se no centro urbano de Belém, com uma área de 5,2 hectares. É o mais antigo do Brasil no seu gênero e inclui em seu roteiro também o pioneiro em todo o Brasil aquário público nacional, prestes a ser reaberto após 10 anos fechado para reforma e adaptações de suas características operacionais. O espaço funciona como uma sala de aula, onde o público entra em contato com o trabalho de investigação científica da instituição, referência obrigatória nos estudos sobre a Amazônia. Abriga cerca de 500 espécies de plantas e sua fauna compõe-se por cerca de 80 espécies de aves, mamíferos, quelônios e répteis.

A Estação Científica Ferreira Penna está situada na Floresta Nacional de Caxiuanã, entre os municípios de Melgaço e Portel, no arquipélago do Marajó (PA). Foi implantada há 23 anos e é sede de diversos experimentos de longa duração e redes de monitoramento mundiais, além de funcionar como um laboratório avançado para pesquisas sobre o funcionamento de florestas tropicais. Ali, o Museu Goeldi desenvolve, além de pesquisas, um amplo programa de educação em dois dos municípios com que apresentam os mais baixos indicadores sociais do país.

Todo esse acervo científico e cultural pode desaparecer por restrições orçamentárias, causando danos irreparáveis à região. Espera-se que o governo tenha sensibilidade e corrija os equívocos trazidos pelos cortes e assim preserve uma das mais importantes instituições de pesquisa da biodiversidade amazônica.

Manaus, 9 de outubro de 2017.

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