O tempo passa

Luiz Lauschner Escritor e empresário

Neste final de janeiro completa-se o terceiro ano da tragédia na boate Kiss na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O Brasil inteiro ficou revoltado, indignado e comovido com o ocorrido, principalmente porque morreram mais de duas centenas de jovens asfixiados ou queimados. O que desencadeou o desastre foi uma sucessão de erros que vêm desde a estrutura do prédio que não oferecia ventilação, desleixo das autoridades, mau uso do material e de equipamentos, ganância em promover superlotação, despreparo em auxiliar a saída etc. Técnicos sérios sabem que se houvesse pessoal preparado, a catástrofe poderia ter sido evitada ou minimizada, mesmo com as instalações inadequadas.


Em cima de acidentes como o de Santa Maria, muitas atitudes são tomadas. Algumas sensatas, outras nem tanto. A ânsia de encontrar culpados sempre é péssima conselheira. Os mortos não podem ser trazidos de volta ao seio familiar, independente da punição dos culpados, mas a prevenção deve ser feita para evitar que mais gente morra por buscar lazer. O Brasil todo, Manaus na frente, promoveu uma varredura nas casas de diversão, apenas vinte e quatro horas após o ocorrido. Agora, passados três anos, a fiscalização continua porque nem todos as normas foram obedecidas pelos responsáveis por casas noturnas.

Muitas casas de show adotam atitudes realmente profissionais ante as exigências dos órgãos públicos, muitos deles vinculados à Prefeitura. Outras, diante da montanha de exigências preferem o velho e errado hábito da propina para empurrar com a barriga situações que comprometem a segurança dos frequentadores, entre outras coisas. O incidente – se é que pode ser chamado assim – em Santa Maria fez subir vertiginosamente o valor dessas propinas assim como o achaque de funcionários corruptos. Em Manaus, o Ministério Público, outrora tão famoso por promover devassa nas casas noturnas, necessitaria assestar suas baterias contra os órgãos que deveriam fiscalizar. Por que há tantas exigências para uns e outros continuam trabalhando de maneira inadequada? Fraude explica.

A fiscalização é necessária para que a população possa ficar tranquila quando vai à escola, shopping ou se divertir num clube ou outra casa noturna. Também é necessário que os órgãos sejam fiscalizados para não cometerem excessos em sua atividade, como exigências estapafúrdias e contraditórias, só porque alguns dos seus dirigentes buscam vantagens escusas ou as luzes da imprensa. A lei seca, descontados os seus exageros, é aplaudida em todo o país, mas fez subir o “pedágio” pago a policiais corruptos, o que a torna inócua como de resto a corrupção apodrece qualquer boa intenção.

O Porão do Alemão, que juntamente com outra casa noturna, não foi lacrado pela varredura promovida pela prefeitura em janeiro passado por cumprir todas as normas legais, técnicas e de segurança, chegou ao requinte de produzir um vídeo para orientar aos seus frequentadores. Este vídeo, que foi disponibilizado na internet e que é rodado todos os dias, no telão, antes do início da música ao vivo, demonstra onde estão os extintores de incêndio, as sinalizações, as portas de emergência, mangueiras de incêndio, entre outras coisas. Esse profissionalismo faz com se mantenha em pé, proporcionando aos seus frequentadores diversão segura por mais de dezessete anos. Infelizmente, assim como alguns colégios, não conseguiu a colaboração dos órgãos públicos para realizar uma simulação, o que serviria didaticamente ao público e como teste à sua brigada de incêndio.

As casas de diversão propõem aos seus clientes a quebra da rotina, por isso são tão necessárias. “Sair do sério” serve apenas para os clientes. Diversão é coisa séria e a data da tragédia em Santa Maria poderia servir de marco para instituir o Dia da Diversão Sadia.

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