Os vilões – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Caros leitores(a), não vou aqui defender os políticos nem minimizar as consequências dos seus malfeitos, quando realizam suas trampolinagens de corrupção e outros tantos delitos. Acredito e aceito que uma avaliação mais rigorosa é justificável e legítima, considerando que o status que os políticos ocupam na sociedade, como também dentro do Estado, não é aquele comum a qualquer cidadão.


Reconheço a existência até de uma tendência na sociedade de satanizar os políticos pelos seus frequentes delitos. Por isto, suas ações merecem ser julgadas sob critérios diferentes e com maiores exigências éticas. É o que o senso comum espera que aconteça. Eu faço uma torção neste ponto de vista e elejo como merecedores de equivalentes julgamentos, outros vilões, outros satãs. Rejeito, por exemplo, este tipo de frase que se lê na Imprensa e ouve-se do popular na fila do banco: “É muita, a roubalheira. Basta olhar para dentro do Congresso”. Não. Não é só assim. A sociedade precisa olhar para si própria e principalmente educar-se a saber olhar para as condutas dos vários agentes econômicos na multiplicidade e variedade das ações cotidianas. É aí – e muito mais do que dentro do Congresso – que vão ser encontrados os mais assíduos e os maiores transgressores da lei.

Fique bem claro que com estes argumentos eu não estou querendo relativizar, e com isto diminuir o peso dos delitos dos políticos, nem tampouco, por outro lado, satanizar os agentes econômicos. Desejo aqui é chamar a atenção, com ênfase, para a importância da repercussão das condutas de novos atores nesta nova ordem econômica. Atores que, a bem da verdade, de alguma forma sempre existiram entre nós, mas não com os papéis e as funções que hoje desempenham e que repercutem extensa e intensamente na vida de todas as pessoas.

Estou argumentando tudo isto tendo em mente o recente abuso cometido por várias empresas não só em Manaus, mas em todo o Brasil que alteraram pesos ou medidas, sem redução nos preços, roubando o consumidor. Provavelmente, a cada minuto, essas empresas cometem algum delito e transgridem a lei. Para esta avalanche de transgressões falta ainda o Estado brasileiro, a sociedade civil – inclusive a Imprensa – apresentarem-se melhor preparados para controlar a indústria, o comércio e a prestação de serviços. Adam Smith, baseando-se nos ensinamentos de Hume, alegava que o comércio prospera onde existe liberdade civil.

A imposição da justiça, contudo, seria uma condição prévia para o estabelecimento de uma sociedade estável. Smith não previu o comportamento (em sociedades de comércio livre) de manipuladores de cartéis internacionais, monopólios especuladores de preços e companhias controladoras de ações de conglomerados e negócios no mercado de ações por informações sigilosas. Forneceu, entretanto, advertências muito claras sobre “vociferações e sofismas” bem como sobre maquinações de comerciantes e manufatureiros. Smith ainda denunciou com igual vigor a motivação em sobrepujar e oprimir, que tem que ser impedida nos grandes poderes e nas classes governantes. E arremata em seu texto A riqueza das nações, de modo pessimista: “Tudo só para nós e nada para outras pessoas parece ser, em qualquer época do mundo, a máxima vil dos que dominam a humanidade”. Isto inclui a maquiagem de produtos que lesam o consumidor, e outras trampolinagens mais desses outros vilões.

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