Parabéns Manaus

Luiz Lauschner Escritor e empresário

Há 347 anos que o homem branco chegou à terra dos Barés e dos Manaos. O tempo começou a contar a partir daí, como se o tempo dos primitivos habitantes nada contasse. A população da Amazônia, antes da chegada dos invasores europeus era estimada em cerca de oito milhões de habitantes, onde hoje há mais de cinquenta milhões. Com raríssimas exceções, os índios cederam suas terras, seus peixes, sua floresta e até suas mulheres aos brancos com um desprendimento inexistente nos conquistadores. Nos dias atuais discute-se o conceito de progresso sem que nenhum dos debatedores queira abrir mão dos confortos da vida moderna.


A tradição judaico/cristã nos conta que os filhos do primeiro casal brigavam por inveja e isto ainda está presente nos dias atuais. Para alguns, a mudança de métodos e a substituição das ferramentas não mudou o cerne de toda questão, por isso o propalado progresso é sempre assunto de debate.

O aumento da população criou regras sociais cada vez mais sofisticadas, algumas das quais ferem a individualidade, outras discutidas longamente embora na essência sejam muito óbvias. É o caso da a PEC dos gastos que determina o óbvio e o ululante que não se pode gastar mais dinheiro que se pode obter. Há os que são contra, mas fazer o que?

Nesta data tão especial que coincide com a data das eleições, quero parabenizar especialmente a Justiça Eleitoral da Comarca de Manaus. Finalmente tornou a lei seca eleitoral mais elástica. A venda de bebida alcoólica que em outros anos começava a ser proibida a partir das 18 horas da véspera das eleições agora só começa às 22 horas. Claro que é um progresso muito pequeno para uma “lei” que jamais deveria ter sido criada. A proibição para a aglomeração de pessoas com consumo de bebida alcoólica não foi criada há 347 anos, mas deve ter cerca de um século de existência.
Foi reforçada durante o período militar em que qualquer festejo da democracia era tido como uma afronta. Militares sempre gostaram de proibir muito e votar pouco. Contudo, a eleição é o coroamento da democracia e qualquer maneira lícita de festejar não pode ser limitada, muito menos proibida. Muitas cidades, antes de Manaus, já aboliram a lei seca. Há trinta anos, a comarca de Maués, no interior do Amazonas simplesmente liberou a venda de bebidas alcoólica por dois períodos eleitorais e não registrou nenhum incidente por causa disso. O argumento do juiz eleitoral da época, Dr. Raphael de Araújo Romano era lacônico: “Melhor ocupar a força policial onde ela é necessária, não cuidando de bares ou de um eventual bêbado.”

O progresso da humanidade acontece em zig zag, muitas vezes volta ao ponto de partida, mas não deixa de existir. As sociedades estão aprendendo regras de convivência que nem precisam mais ser lembradas. A violência não precisa estar associada ao consumo de álcool, senão nos países muçulmanos onde ele é proibido, ela não existiria. A interferência na vida do indivíduo deve estar limitada à obediência às leis sociais. O exagero, além de rotulá-lo como incapaz de cuidar de si mesmo, pode desafiar mentes criativas a burlar regras desnecessárias. A lei seca americana criou a máfia que continuou depois da queda da lei. Muitos crimes associados ao tráfico de drogas não estão ligados ao consumo, mas ao combate. Não cabe fazer apologia ao consumo de bebida alcoólica nem a outras drogas, mas também não podemos aplaudir qualquer proibição porque as consequências já são conhecidas.

Parabéns, Manaus!

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