Paris se prepara para enfrentar temperaturas de 50°C no futuro

Foto: Recorte

A cidade de Paris se planeja desde já para enfrentar um cenário em que, com as mudanças climáticas, as temperaturas próximas de 50°C podem não ser mais raras nas próximas décadas. Um relatório apresenta eixos de ação para a Cidade Luz se preparar para o pior.


Construir e cultivar vegetação em todos os lugares são o pilar da transformação sugerida por um grupo de vereadores para a capital francesa lidar com as ondas de calor no futuro. O estudo, validado por unanimidade pelo Conselho de Paris, equivalente à Câmara Municipal de Vereadores, é o resultado de seis meses de audiências sobre o tema. Os autores da missão “Paris a 50°C”, oriundos dos mais diversos partidos, elaboraram, no total, 85 recomendações para que a cidade não se torne inabitável no futuro.

“Precisamos desenhar um outro modelo urbano”, advertem os autores no relatório, de 240 páginas. Eles observam que “a cidade de Paris já implementou muitas ações” para limitar os efeitos das ondas de calor, mas “o risco de que Paris superaqueça e se torne inabitável no médio prazo é real”.

Segundo as previsões dos climatologistas, a capital “poderá registrar em média 34 dias de ondas de calor por ano até 2080, em comparação com 14 dias por ano na década de 2010”. O número médio de noites com clima tropical pode aumentar de cinco para 35 por ano.

Projetos em curso

Numa cidade “particularmente mineral e densa”, urbanizada “a mais de 80%”, os materiais de construção (no caso parisiense, pedra, cimento, asfalto e zinco, principalmente) e as atividades humanas “geram um aumento adicional da temperatura que pode ir até aos 8 ou 10ºC em relação às cidades vizinhas, sobretudo à noite”, salienta a missão presidida pelo ecologista Alexandre Florentin.

Os vereadores saudaram os projetos de “revegetalização” já realizados pela prefeita socialista Anne Hidalgo, como as “ruas escolares” – 57 equipadas ou em construção até o momento – e os “pátios oásis”, com terra, grama e vegetação em vez de materiais sintéticos ou concreto, num total de 100 até agora nas escolas públicas parisienses.

Entretanto, os autores também pedem que a prefeita “vá além”, com “uma praça oásis por bairro” e troque os espaços reservados para estacionamento de carros e bicicletas por grama. Eles solicitam que a prefeitura vegetalize as “fachadas mais expostas” ao calor com “trepadeiras de baixa manutenção”.

Pintar o zinco dos telhados

Nos prédios existentes, a missão recomenda o desenvolvimento de “terraços coletivos” incluindo coletores de água, vegetação e produção de energia renovável. Quando isso não for possível, devido aos famosos telhados de zinco que caracterizam Paris, os vereadores pedem para que as estruturas “planas e não pertencentes ao patrimônio nacional” sejam pintados com “revestimento claro”, e seu interior tenha o isolamento térmico reforçado, incluindo nos edifícios históricos.

O tema é delicado dado ao apego dos franceses às tradicionais coberturas de zinco – mas que contribuem para o aumento das temperaturas. O grupo socialista se ofereceu para“pensar na substituição das coberturas de zinco por materiais de imitação”.

Os autores do relatório também recomendam “sombrear as grandes praças e avenidas”, chegando a propor “obras de grande envergadura em algumas praças fortemente mineralizadas”. Alguns projetos urbanísticos da prefeita socialista, herdados do seu primeiro mandato, são contestados pelos seus aliados ecologistas e ativistas ambientais, principalmente a Torre do Triângulo, que está a ser construída no sul da capital.

“O planejamento urbano favorável às ilhas de calor urbanas foi implementado e realizado nas últimas décadas e parece continuar até hoje”, sublinha Albert Lévy, arquiteto urbano e pesquisador do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS).

Construída sob seu antecessor, o também socialista Bertrand Delanoë, a atual Praça da República também é frequentemente criticada por sua mineralidade. “O desenvolvimento da cidade só agrava as consequências das altas temperaturas”, destaca a relatora da missão parlamentar, Maud Lelièvre, da oposição (MoDem).

Nadar no Sena

A organização dos Jogos Olímpicos de 2024 deu um grande impulso ao projeto de revitalização do rio Sena – uma opção de refresco no verão que os vereadores querem generalizar. Ao mesmo tempo, porém, eles também recomendam “não gastar recursos para a organização de grandes eventos ou manifestações”.

Para se preparar para “a eventualidade de um pico de calor extremo”, eles recomendam o desenvolvimento de vários “espaços de refúgio” para a população: andares subterrâneos, estacionamentos, estações de metrô desativadas, entre outros.

Estas recomendações poderão ser integradas em dois textos que estão sendo atualmente revisados pelo executivo: o Plano Local Urbanístico (PLU) e o Plano Clima, que devem ser apresentados à Câmara Municipal em junho e julho.

Fonte: G1

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