Peixes caranha são encontrados em agregação reprodutiva no Litoral de SP 

Cardume de caranhas na região da Laje de Santos em abril de 2022 - Foto: João Paulo Scola

Pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha (LABECMar), do Instituto do Mar (IMar), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), campus Baixada Santista, relataram a primeira validação in loco de uma agregação reprodutiva da caranha (Lutjanus cyanopterus) em águas subtropicais do oceano Atlântico. Pesquisadores do Projeto Meros do Brasil e do Museu de História Natural do Capão da Imbuia (Curitiba/PR) também são co-autores do estudo.


O evento por si só, é um dos espetáculos mais belos da natureza marinha e foi registrado próximo ao Parcel da Conceição nas águas da Área de Proteção Ambiental (APA) Marinha do Litoral Centro, que abrange o litoral entre as cidades de Bertioga e Perúibe (SP). A caranha é uma espécie de peixe do grupo dos vermelhos, que possui o comportamento de se agregar em grandes cardumes para desovar em locais e épocas específicas a cada ano.

“A identificação das áreas de agregação reprodutiva de peixes é crucial para determinar medidas eficazes de gestão da pesca visando a manutenção dessas populações no ambiente. Encontramos evidências diretas por meio do registro de fêmeas de caranha com folículos pós-ovulatórios capturadas no interior da maior unidade de conservação marinha de uso sustentável do sudeste do Brasil, representando a primeira validação in loco desse processo reprodutivo”, explica Fábio Motta, pesquisador do IMar-Unifesp.

A descoberta se deu, porém, de forma inusitada e por meio da análise de 127 espécimes (pesando aproximadamente 2.253 kg no total) capturados ilegalmente por uma embarcação de pesca em janeiro de 2021 e apreendidos pela Polícia Militar Ambiental de São Paulo. O exame das ovas dos peixes permitiu comprovar o comportamento reprodutivo da caranha durante o verão, diferentemente do período de defeso (em que as atividades de pesca esportiva e comercial ficam proibidas) previsto na Portaria Interministerial 59–C de 2018.

Quatorze indivíduos da espécie, variando de 82 a 115,4 cm, foram selecionados aleatoriamente e analisados. “O exame histológico de seis ovários mostrou fêmeas com evidências de desova recente. Esta agregação reprodutiva provavelmente está relacionada com o aumento da temperatura da água do mar e a ocorrência de ressurgências [eventos oceanográficos que aumentam a produtividade das águas marinhas] sazonais durante os meses de verão, bem como à complexidade de habitats [presença de parcéis rochosos de diferentes formas e tamanhos] e características geomorfológicas da região, especialmente a presença de paleocanais [cursos de rios antigos]”, destaca Guilherme Pereira-Filho, um dos autores do artigo e pesquisador do LABECMar-Unifesp.

Embora a espécie tenha alto valor econômico na região, alvo tanto da pesca comercial quanto da recreativa, a legislação brasileira impõe restrições de captura que não condizem com as evidências científicas levantadas no estudo e se limitam aos meses de inverno, estação sem registros frequentes de agregação. “Nossas descobertas destacam a necessidade de uma estratégia de gestão abrangente que inclua a revisão do período de defeso da pesca e programas colaborativos de monitoramento e pesquisa”, analisa Motta.

“Essa descoberta não seria possível sem o apoio da Polícia Militar Ambiental de SP e, dessa forma, enfatiza a importância de parcerias entre a Universidade e outras instituições para o avanço do conhecimento sobre o oceano”, relembra Pereira-Filho, que ainda destaca que esse evento “é a descoberta de mais um importante atributo ecológico do litoral paulista”.

“A descrição desse evento reprodutivo abre uma janela de oportunidade para o diálogo entre pescadores profissionais, amadores, cientistas, gestores e demais atores locais que buscam a gestão pesqueira participativa desta espécie”, complementa Pereira-Filho. Além dele e de Fábio Motta, assinam o artigo científico publicado na Fisheries Research os pesquisadores Matheus Freitas (Instituto Meros do Brasil), Fernanda Rolim (LABECMar-Unifesp) e Vinícius Abilhoa (Museu de História Natural do Capão da Imbuia).

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