Por que a Petrobrás desativou 60% do refino de petróleo nas refinarias próprias em território nacional e está importando gasolina dos EUA? Esta pergunta foi feita em 12 de outubro de 2021.
A razão principal é o grau API do petróleo usado nos projetos das refinarias. Trabalhávamos com o petróleo do oriente médio, notadamente Árabe Light e Basrah Light, ambos na faixa dos 35 ° API. Nas décadas de 60 a 80, quando nossas principais refinarias foram construídas, a produção de petróleo nacional era pouca, da ordem de 180 mil barris, para um consumo na casa de 1 milhão de barris.
Na década de 80 nossa produção de petróleo começou a aumentar e hoje atinge uns 2,5 milhões de barris por dia, para um consumo da ordem de 2,2 milhões de barris por dia.
Ocorre que o petróleo brasileiro é bem mais pesado, da ordem de 19 a 26 °API, do que aqueles do oriente médio – 35 °API e que serviram de base de projeto das refinarias.
Quando se alimenta petróleos mais pesados do que aqueles utilizados como base de projeto às refinarias, elas produzem pouco óleo diesel e gasolina e muito óleo combustível. Este último produto tem pouco valor comercial e sua utilização no mundo está cada vez mais restrita. O mercado para os óleos combustíveis no Brasil também se reduziu fortemente, por causa das exigências ambientais e pela substituição deles por gás natural.
A Petrobras se defrontou com esse problema e entendeu que havia duas soluções:
exportar o petróleo pesado e comprar derivados refinados, como óleo diesel e gasolina para não ter que exportar óleo combustível, um produto cada vez mais difícil de vender, por falta de mercado e com preços aviltados (pela baixa demanda, leis ambientais mais restritivas, etc.);
adaptar as refinarias com unidades de fundo de barril, como unidades de coqueamento retardado, hidrotratamento e geração de hidrogênio, para tratar os produtos gerados. Essas unidades transformam o óleo combustível em gasolina e óleo diesel.
A Petrobras usou um pouco das duas alternativas: adaptou algumas refinarias para petróleos pesados, tendo que fazer pesados investimentos e também exporta petróleos pesados e importa petróleos leves e produtos refinados, para não ter que adaptar todas as refinarias. O custo das adaptações seria enorme, se adaptasse tudo. A empresa preferiu investir o dinheiro limitado que tem em mais produção de petróleo nacional. Assim ela pode vender esse petróleo e comprar os produtos de que necessita
Então essa foi uma decisão empresarial acertada, porque o país continua suprido com derivados de petróleo e não teve que investir “os tufos” em um parque de refino difícil de modernizar e adaptar para os petróleos mais pesados. Pesou para isso o altíssimo custo de construção de unidades de refino no Brasil. Certamente alguém no exterior tem refinarias mais modernas ou já construídas para petróleos pesados e para eles operar com petróleo brasileiro é bem econômico.
Então a Petrobras continuará com um pouco de cada solução, porque esse é o modelo de negócio mais vantajoso para ela e para o país.
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