Publicidade, Crianças e o Excesso de Informação – por Isabela Abes Casaca

publicidade infantilEste nascente século em que vivemos é indiscutivelmente o apogeu da publicidade e do marketing. Somos constantemente expostos e uma enxurrada de propagandas, seja nos locais públicos através de outdoors, carros de som, panfletos, seja em nossa casa com a televisão e a internet.


Fato que gerou um consumismo desenfreado, onde muitas vezes nos enxergam como uma mera massa de consumidores e não como indivíduos singulares e seres humanos. Certamente, as crianças são os indivíduos mais vulneráveis neste contexto todo.

A resolução nº 163/14 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), reacendeu esta antiga questão, suscitando o debate público a respeito da temática, afinal como devemos lidar com a publicidade direcionada aos pequenos?

Direcionar a publicidade diretamente aos infantes foi uma grande sacada, pois “o conteúdo comunicacional das crianças de até sete anos de idade não é racional, e sim emotivo“[1], portanto esse publico não refletirá acerca do que está sendo transmitido, será fisgada diretamente no sentimento, sendo muito mais fácil de persuadi-las, a força desta persuasão é tão certeira que “basta apenas trinta segundos para que uma marca influencie uma criança“[2].

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Para complicar ainda mais o quadro, uma pesquisa feita pelo TNS/InterScience relevou que 80% da influencia de compra dentro de um lar é proveniente das crianças. Pensemos, voltar a publicidade diretamente aos pequenos coloca os progenitores em situação difícil, pois vilanifica desnecessariamente os pais perante seus filhos, caso aqueles neguem a aquisição do objeto desejado.

Colocando um pai e uma mãe no lugar de vilão, a harmonia dentro do lar sofre um revés, não são todos os pais que estão preparados e dispostos a adotarem uma postura mais firme e irem contra a enxurrada de propagandas, em consequência eles sedem aos apelos das crianças em nome de um “pax romana”, em nome de uma falsa harmonia dentro do lar, onde se opta por consumir, aceitando a demasiada influencia da publicidade.

O documentário Criança, A Alma do Negócio, demonstra, de maneira sintética e objetiva, o panorama de como os infantes tem sofrido uma demasiada influencia pelas milhares de campanhas publicitárias do cotidiano, elencando táticas e métodos utilizados, revelando as alterações no perfil de personalidade das crianças e as consequências acarretadas.

O gosto que fica na boca após assistir a película supracitada é de infância roubada, haja vista que se percebe que as crianças, em sua terna idade, tem se afastado de sua natureza infantil, tornando-se consumidores desenfreados e “mini-adultos”, em aparência e comportamento. Dizer que tal quadro não beneficia o desenvolvimento dos mesmos é um tanto quanto óbvio.

Uma outro ponto ainda pouco estudado é a questão de quais as consequências o excesso de informação pode causar as crianças?

Segundo uma breve nota publicada na Revista Mente e Cérebro, um pesquisa realizada por médicos estadunidenses ligadas a Journal of the American Medical Association concluiu que há relação do bombardeio de informações vindas da internet TV, jogos eletrônicos e outras mídias com o desenvolvimento de comportamento violento, ao amadurecimento sexual precoce, ao abuso de drogas, à obesidade e a distúrbios alimentares.

Não que os pesquisadores sejam contra os meios de comunicação e a tecnologia, o alerta deixado por eles é que tenhamos mais consciência sobre os efeitos causados pelo excesso de informação na saúde infantil, buscando a salvaguardar nossas crianças de algo prejudicial.

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De qualquer forma ainda restam muitas dúvidas a respeito, que tipo de adulto uma criança que teve sua mente inundada por quilos e quilos de informação se tornará? Um adulto com a mente empobrecida? Um adulto com pouco poder de investigação e reflexão? Um adulto mais influenciável e manipulável? Um adulto que não terá tanta facilidade para deixar a infância? Somente o tempo nos dirá, eu honestamente prefiro não esperar pra ver…

Refletindo a respeito de tudo o que foi dito anteriormente podemos concluir que a edição da resolução do CONANDA é muito bem vinda. É um passo, mesmo que pequeno e tímido, para assegurar a não exploração da inocência de nossas crianças, garantindo um desenvolvimento sadio sem extrema interferência midiática. Outros países como Canadá, Irlanda, Espanha, Bélgica, Grécia etc, já elaboraram até lei regulamentando o assunto.

E vem chegando a hora do ordenamento jurídico pátrio seguir os exemplos supracitados e se posicionar no sentido de garantir o desenvolvimento sadio dos infantes, nossa Carta Magna dá perfeito respaldo neste sentido, veja-se o que a Constituição Federal versa a respeito:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (grifo nosso)

Legislar a respeito salvaguardará que toda criança tenha direito a especial proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social[3] e que gozem de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade[4], além é claro de colaborar com a educação dada pelos pais no âmbito familiar.

Claro, não adiante apenas a ação do poder público, o poder paternal também deve ser atuante e presente, no sentido de acompanhar as crianças, supervisionando e ensinando, evitando a demasiada exposição de seus filhos à propagandas e informação excessiva, enfim ocupando verdadeiramente seus lugares dentro de uma família.

Outras atividades podem ser feitas em substituição a televisão, jogos eletrônicos e similares, brincar com as crianças, levá-las para atividades ao ar livre, lendo contos, nas palavras de Albert Einsten: “Se você deseja que seus filhos sejam inteligentes, leia-lhes contos de fadas. Se você quer que eles sejam mais inteligentes, leia-lhes mais contos de fadas.“, agindo desta maneira nós e os nossos pequenos só temos a ganhar.

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[1] Pedrinho Guareschi.

[2] Associação Dietética Norte Americana – Borzekowiski / Robinson.

[3] Adaptado da Declaração Universal dos Direitos da Criança, Segundo Princípio.

[4] Adaptado do Estatuto d Criança e do Adolescente, art. 3º.

 FONTE: Nova Ágora

[author image=”http://oi59.tinypic.com/md2p28.jpg” ]Isabela Abes Casaca é graduanda em Direito e integrante do movimento Novo Ágora. Considera-se escritora amadora.[/author]

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