Rabelo, Abreu e Braga, o trio de latão da Dilma (Por George Dantas)

Articulista George Dantas/AM
Articulista George Dantas/AM

Tem um assunto que o brasileiro entende melhor que qualquer outro povo, o famoso futebol. Aqui se diz que o povo sabe escalar a melhor seleção do momento, sabe quem não deve ser convocado e quase sempre os palpites dos técnicos do povo acabam se revelando corretos.
Trazendo isso para o palco político, é de se imaginar que na escalação do ministério de qualquer governo, os melhores de cada área sejam os escolhidos dentro da corrente de apoio que o governante amealhou na última eleição.

Dito isso, não tenho que me furtar a comentar a escolha da presidente Dilma Rousseff para alguns importantes ministérios, daqueles que se bem gerenciados podem render muitos dividendos para nossa Amazônia.


Ontem (23), os amazônidas receberam um presente de Natal às avessas, foram escolhidos alguns novos ministros para o segundo mandato da presidente Dilma,  entre eles, encontramos os nomes de Aldo Rabelo, Kátia Abreu e Eduardo Braga.

Cada um desses futuros novos ministros,  revelaram um algum momento, uma dose de má vontade com a Amazônia ou carregam o peso do desconhecimento ou da relevância que a pasta tem, em outras palavras, falta estrutura e bagagem para que eles possam fazer uma gestão minimamente aceitável frente a pasta para a qual foram nomeados.

De longe, o destaque negativo se dá com a indicação de Aldo Rebelo/PC do B para o Ministério de Ciência e Tecnologia, pasta essa de extrema relevância na área científica dada a imensa necessidade de estudos da nossa região, a qual sabidamente formou poucos mestres e doutores, quando comparados com outras regiões do Brasil, a ciência deve ser o principal fator indutor do conhecimento em nossa região e o estimulo a pesquisa e inovação com base na megadiversidade da Floresta Amazônica. Ocorre que Aldo Rebelo há anos se revelou um insipiente na questão amazônica quando esteve a frente da relatoria do projeto que alterou radicalmente o Código Florestal em 2011, aliado que foi, de outra radical do tema, a ruralista e senadora Kátia Abreu, sobre a qual falaremos adiante. Na época, contestando ações do relator, o  deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) disse “O paradoxal é ver gente que se diz, com compromisso social e ecológico, defendendo isso (…). ele está, na prática, trocando a foice e o martelo, que são símbolos tradicionais do trabalho, da luta do trabalhador e do camponês, pela motosserra, pela devastação, que é o símbolo do agronegócio exportador e da agricultura espoliativa”. Resumindo, tempos de aridez nos espera por aqui haja vista o completo desconhecimento desse cidadão que será o futuro gestor de uma pasta crucial para o desenvolvimento da nossa região.

O segundo destaque negativo vai para a indicação da senadora ruralista por Tocantins Kátia Abreu (PMDB), alçada que foi a primeira-amiga da presidente Dilma a qual, mesmo contra a indicação do PMDB irá nomeá-la para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Sobre Kátia Abreu disse assim o MST “Kátia Abreu tem raízes em um segmento que tem a terra como um instrumento de poder e reserva de patrimônio, sem vocação para a produção, sem qualquer responsabilidade com a preservação do meio ambiente e que vê no fortalecimento da agricultura uma oportunidade para especulação, tanto para vender a propriedade como para o arrendamento”. As posições assumidas frente a CNA-Confederação Nacional de Agricultura e no congresso nos trazem a certeza do risco ambiental que será a gestão dela a frente do MAPA nos próximos anos, ela que foi da linha de frente para a flexibilização do código florestal em 2011 em favor dos ruralistas e da expansão da fronteira agrícola para o bioma amazônico em favor do agronegócio, que não tem lá muito pudor com as questões ambientais e com a expulsão dos pequenos proprietários de terras na região. É de se esperar grandes conflitos pela posse da terra com camponeses e MST de um lado e latifundiários e ruralistas de outro, levando o conflito para o campo, onde em tese, deveria estar sendo levado alimento e progresso para populações tradicionais.

Por fim, não há como deixar de comentar a indicação do senador pelo Amazonas Eduardo Braga (PMDB) para o Ministério das Minas e Energia, dado seu notório saber nesse segmento tão importante para a economia brasileira.

A geração e transmissão de energia enfrente um déficit que irá se tornar um problema nacional nos próximos dois anos caso o Brasil não enfrente essa questão de forma estratégica, nesse sentido, há caminhos seguros e outros nem tanto, e ambos completamente divergentes, um deles é o caminho da energia limpa e sustentável e o outro embora limpo, traz consigo danos irreparáveis ao meio ambiente e suas populações, que são as hidrelétricas na Amazônia. Existem ao menos 11 projetos de instalação de hidrelétrica na Amazônia, sendo que três grandes delas em processo de finalização, a UHE Belo Monte na região do Xingú, e UHE Santo Antonio e Jirau no Madeira.

Será que o senador Braga tem a noção do real impacto dessas hidrelétricas para o meio ambiente? O fato é que essa pasta é fundamental para traçar as estratégias de disponibilização de energia necessária para o crescimento do País e faltam ao senador a estrutura e expertise necessária para condução dessas politicas no âmbito do ministério. O Amazonas todo sabe que o senador fez um acordo com seu suplente, o empresário e proprietário da Videolar, uma das maiores empresas do Polo Industrial do Amazonas, para que o mesmo deixasse a segunda parte do seu mandato ao suplente, como Braga não logrou êxito em conquistar o mandato de governador do estado, restou a ele buscar uma alternativa de entregar o restante do mandato de senador ao gaúcho Lírio Parisoto e essa opção veio através do seu partido, o PMDB, que o indicou para ser ministro de uma das pastas que pertencem ao partido no fatiamento do poder adotado pela presidente Dilma. Finalizando, teremos um ministro das Minas e Energia sem poder para traçar as estratégias que o Brasil precisa e um senador licenciado de olho na Prefeitura de Manaus em 2016, resultando certamente em uma decepcionante gestão por falta de foco e objetividade no que fazer.

Poderiamos dizer que a presidente Dilma teve a chance de escalar um trio de ouro para a condução de importantes políticas para a Amazônia, porém, as indicações se revelaram que teremos mesmo é um trio de latão, com quase ou nenhum brilho.(George Dantas)

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