Sujem-se Ladrões – Por Flávio Lauria

Professor Flávio Lauria (AM)

Num dos seus contos mais conhecidos, incluído em Relíquias da casa velha, Machado de Assis põe na boca do narrador a história de um moço que, tendo furtado irrisórios 200 mil réis, é condenado quase por unanimidade por um corpo de jurados do qual fazia parte certo Lopes, que ao longo do julgamento não cansa de resmungar:
– Quer sujar-se? Suje-se gordo! Suje-se gordo! Anos depois o narrador, mais uma vez sorteado para o júri, depara-se com o mesmíssimo Lopes, agora transformado em réu, acusado do desvio de 110 contos de réis do Banco do Trabalho Honrado, do qual era caixa: como de esperar, Lopes, que perante o Tribunal mantivera ar desafiador e petulante (e que além do mais era ruivo, como faz questão de esclarecer Machado), é absolvido por absoluta falta de provas.


Professor Flávio Lauria (AM)

E conclui com ironia o narrador, ou por detrás dele o bruxo do Cosme Velho, tão atual hoje como há 100 anos atrás: – Vi que não era um ladrão reles, um ladrão de nada, sim de grande valor. O verbo é que definia duramente a ação: “Suje-se gordo”! Queria dizer que o homem não se devia levar a um ato daquela espécie sem a grossura da soma.

A ninguém cabia sujar-se por quatro patacas. Quer sujar-se? Suje-se gordo! Lembrei-me do conto nesse momento porque acabo de ler nos jornais a infeliz declaração de um senador, flor meio murcha da democracia tupiniquim, segundo o qual embolsar um subornozinho de 50 milhões de reais, como dizem ter feito um deputado, é coisa insignificante – o que nos dá ganas de lhe perguntar quanto dinheiro ele considera necessário para que um corrupto seja realmente importante.

O caso é que nos últimos tempos têm sido numerosos no Brasil os que, esquecendo-se do sábio conselho do Lopes, sujam-se por meras quatro patacas, desse modo arriscando cargo, reputação e pescoço: três mil reais, que foi quanto levou o funcionário dos Correios que deu início à crise do chamado Mensalão, algumas gravatas, no episódio nos EUA envolvendo conhecido rabino, um vaso de cimento, afanado por badalado estilista de uma necrópole paulista.

Diga-se aliás, em favor do rabino, que as gravatas surrupiadas eram de seda pura e de grife, já o costureiro não merece piedade, pois se deixou seduzir por um horroroso vaso de cemitério, quando podia ter tentado levar no mínimo um anjinho. Senhores, mais vergonha na cara! Sujem-se gordos, pelo amor de Deus! Mas o leitor há de perguntar: `60 milhões, 80 milhões, 6 milhões é insignificante? Corroído pela corrupção até o Presidente da República entrou na roda, para não ficar de fora.

A verdade é que as duas casas do Poder Legislativo estão tão desmoralizadas que imaginar que os parlamentares votarão reforma política é o mesmo que atribuir aos perus, no Natal, a administração de seus pescoços. O país está numa situação de virtual paralisia. Apostar no futuro mesmo que seja próximo, passou a ser um jogo de adivinhação em que a única certeza é o fatal comprometimento da governabilidade.(Flávio Lauria é Professor Universitário e Consultor de Empresas – [email protected])

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