Uma verdade inconveniente – por Rafael Coelho Marinho

Rafael Coêlho Marinho - foto: divulgação

Alguém se lembra da “BR-319 estrada parque” do ministro dos Transportes dos governos Lula e Dilma, Alfredo Nascimento? Seria uma estrada paraíso, com parques ambientais preservados ao longo do trecho de Humaitá a Manaus. Pois é, tal estrada parque era uma miragem.


Há 20 anos a fumaça das queimadas em Rondônia e no Sul do Amazonas (Boca do Acre, Lábrea, Apuí, Borba, Humaitá, Manicoré e Novo Aripuanã), chegava rarefeita a Manaus e era suportável.

Hoje as queimadas se concentram no eixo da BR-19, especialmente em Borba, Autazes, Careiro Castanho, Careiro da Várzea, Manaquiri e na região metropolitana de Manaus. A fumaça é densa e insuportável, as partículas em suspensão invadem as narinas e os pulmões, deixando um gosto amargo de queimado na boca e nos olhos. Quantas carteiras de cigarro os amazonenses estão fumando por dia inalando essa fumaça, 5, 10, 20? E o que os governo federal e estadual estão fazendo? Quase nada. Falharam feio, a catástrofe estava anunciada com a super seca de 2023 e grileiros de terra e fazendeiros gananciosos, que operam à margem da lei, aproveitaram o momento perfeito para tocar fogo na floresta. Onde estavam, Abin, Polícia Federal, Ministério do Meio Ambiente, Ibama, Ipaam? Quais medidas de enfretamento foram previamente tomadas? Nenhuma. O povo sabe, o povo fala.

O cientista Philipe Fearnside, pesquisador do INPA, sempre contestou a ideia de que a Polo Industrial de Manaus mantinha a floresta amazônica em pé na parte do Amazonas. Ele afirma: o que mantém a floresta em pé é a BR-319 não asfaltada, o dia que for asfaltada o arco do desmatamento e os conflitos agrários batem às portas de Manaus.

O pesquisador da Ufam, Lucas Ferrante, em entrevista ao jornal O Globo, publicada hoje, 13.10.2023, vai na mesma pegada: o asfaltamento da BR-319, abre caminho para a conexão de metade do que resta da floresta ao arco do desmatamento, fixado nas zonas sul e leste do estado. Neste momento, o chamado “trecho do meio” da estrada, em torno de 400km de extensão, arde em chamas por incêndios criminosos em vicinais ilegais que, em quilometragem, são maiores que os 900 quilômetros da estrada a asfaltar. E é essa fumaça que estamos respirando agora.

A inviabilidade econômica da BR-319 está comprovada em vários estudos. Não há material para manutenção e grande trecho vai ao fundo na enchente do rio Madeira e afluentes. A carga da Zona Franca, que não é perecível, não passará por lá. Segundo Ferrante, pesquisas têm demonstrado que os beneficiários da pavimentação da rodovia são desmatadores ilegais, garimpeiros e grileiros de terras vindos de outros estados, que agem com a conivência do INCRA e do IPAAM, uma denúncia séria a ser investigada.

O fato, para enfrentar esses incêndios criminosos é preciso uma operação de caráter militar, por terra, rio e ar, envolvendo forças armadas, polícias federal e estadual, IBAMA e IPAAM, corpos de bombeiros do Amazonas e de vários estados especializados em incêndios florestais, uma verdadeira GLO na floresta, com identificação, prisão e julgamento dos criminosos. Sem isso, continuaremos a respirar, todos os anos, milhões de metros cúbicos de árvores em forma de gás carbônico. Se esse for o novo normal, a vida em Manaus e no Amazonas será inviável. As perdas econômicas serão inestimáveis e não adiantará nada se lamentar ou pedir a Deus e à Nossa Senhora de Aparecida que mandem chuva, pois Deus só ajuda quem faz sua parte.

*Rafael Coêlho Marinhoformado em Administração com habilitação em Marketing no Centro de Ensino Superior do Amazonas – Ciesa; Pós Graduado no MBA de Marketing da FGV – Fundação Getulio Vargas Nos 23 anos de mercado, trabalhou como assistente de MKT na afiliada da Rede Globo na Região Norte – Rede Amazônica. Como Diretor de Atendimento atuou nas principais agências do Amazonas e foi Fundador e CEO da the White publicidade, agência 10 vezes consecutiva como melhor do Estado.
Ao longo dos anos recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais, entre eles 10x Agência do Ano, Colunistas, Associação Brasileira de Design, Lusos em Portugal, Latinos na Argentina e World Athletics em Mônaco.

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