Você fala tão rápido que ninguém te entende? Pode ser sinal de taquifemia

Dra. Cristiane Romano, fonoaudióloga, mestre e doutora em Ciências e Expressividade pela USP.

Segundo a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), mais de 15 milhões de brasileiros apresentam problemas vocais, capazes de atrapalhar a comunicação pessoal e profissional. Previsões apontam que no triênio 2020–2022, as doenças relacionadas à voz no Brasil atinjam 6.470 homens e 1.180 mulheres.


Uma delas, mais comum do que se imagina, é a taquifemia, um distúrbio de fluência que compromete a velocidade da fala e, consequentemente, o entendimento. A articulação é tão rápida que a pessoa atropela as palavras e prejudica a inteligibilidade da mensagem. Presente na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), com os caracteres F98.6, a taquifemia é considerada um distúrbio/transtorno de fluência.

“Portadores de taquifemia têm pouca consciência do distúrbio. Costumam apresentar aumento de hesitações e disfluências, troca de letra na fala e escrita, dificuldade para encontrar palavras, dificuldades sintáticas, discurso confuso, dificuldade de leitura e escrita, desatenção, hiperatividade, impulsividade, retardo no desenvolvimento de linguagem e no desenvolvimento motor”, descreve a Dra. Cristiane Romano, fonoaudióloga, mestre e doutora em Ciências e Expressividade pela USP.

Como é feita a avaliação

A avaliação consiste na coleta de amostras de fala em situação de repetição de palavras, repetição de frases, fala semi-espontânea e leitura em voz alta. As amostras são analisadas em termos de velocidade de fala, pausas silenciosas, frequência e tipologia de hesitações/disfluências, coordenação entre respiração e fala, articulação dos sons de fala. A fala semi-espontânea também é analisada em relação à estruturação textual (habilidade para descrever, narrar e argumentar). Quando necessário, também é incluída avaliação específica de compreensão de fala, vocabulário, leitura, escrita e audição.

Tratamento

Após o diagnóstico, o tratamento acontece por meio de exercícios de relaxamento e alongamento para os lábios, língua, pescoço e ombros, pois diminuem a sensação de urgência para falar; exercícios de velocidade, que fazem o paciente perceber as diferenças entre a fala lenta, normal e rápida; e exercícios de pausa silenciosa, que ensina a frequência adequada da fala ao paciente. O tratamento engloba as seguintes metas:

Diminuição da velocidade de fala e aumento de pausas silenciosas

O paciente treina a redução de sua velocidade de fala, articulando com clareza todas as sílabas das palavras e fazendo pausas em locais adequados. São utilizados materiais como repetição de frases, leitura em voz alta e narrativa de cartoons.

Melhora da articulação dos sons de fala
Quando as alterações articulatórias acontecem pelo aumento da velocidade de fala, estas melhoram automaticamente com a diminuição do ritmo acelerado. Quando este não for o caso (por exemplo, quando ocorrem trocas de sons), é necessário focar na produção dos sons propriamente ditos.

Encontrar palavras durante a fala (acesso lexical)
A diminuição da velocidade de fala e o aumento de pausas silenciosas geralmente melhoram o acesso lexical durante a fala espontânea. Quando isso não é suficiente, são aplicadas estratégias para reforçar as conexões entre palavras no dicionário mental, envolvendo atividades que trabalham palavras do mesmo campo semântico e com vários significados (polissemia), sinônimos, antônimos.

Aprimoramento das habilidades textual-discursivas
São utilizadas histórias em quadrinhos sem texto (cartoons) para aprimorar as habilidades de descrição, narrativa e argumentação.

Hesitações/disfluências comuns e reformulações
A diminuição da velocidade de fala, o aumento no número de pausas silenciosas e o aprimoramento do vocabulário, do acesso lexical e das habilidades discursivas promovem a diminuição no número de hesitações e de reformulações na fala espontânea.

Leitura

Em diversos casos, a diminuição da velocidade de fala auxilia na compreensão do texto lido. “Entretanto, alguns pacientes apresentam dificuldades maiores de leitura. Se o comprometimento for na rota fonológica, haverá maior dificuldade para ler palavras novas ou não-palavras. Neste caso, o paciente será encaminhado para fonoaudiólogo especializado em leitura e escrita”, finaliza Cristiane Romano.

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