Wilson Périco, presidente do CIEAM, em artigo publicado na coluna Follow-up, demonstrou extremo e comovente constrangimento com a falta de posicionamentos, claros ou ao menos velados, de candidatos à vereança ou à Prefeitura em relação à Zona Franca de Manaus (ZFM) durante as campanhas eleitorais.
Périco é incisivo: que candidato se comprometeu com a defesa de nossa economia, incluindo ações específicas sobre a ZFM em seus programas de ação? Como deixar de lado a principal fonte de renda e de empregos que o “modelo” representa?
Lamentavelmente, tal estado de alienação da classe política se arrasta por tanto tempo, e, ao que se é levado a temer, irreversivelmente.
A despeito de recentes estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), de economistas e professores das universidades locais haverem derrubado errôneos equívocos interpretativos bastante difundidos, persiste ainda falta de discernimento, afirma Périco, quanto à suposição de que o “modelo” custa ao país R$25 bilhões a cada ano.
Muito ao contrário, segundo a FGV o Amazonas aparece entre os cinco maiores contribuintes da Federação. Anualmente, informa o Portal da Fazenda, R$17,3 bilhões de IPI são repassados à Receita Federal. Desse volume de recursos, muito pouco retorna à região para aplicação em programas e projetos de desenvolvimento.
Somando-se aos R$4,7 bilhões referentes a receitas estaduais geradas no PIM que, constitucionalmente, se destinariam à interiorização do desenvolvimento (que não se verifica) e à manutenção acadêmica da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), mais R$1,6 bilhão como contrapartida dos incentivos e, ainda, R$0,9 bilhão sob a letra de investimento em pesquisa e desenvolvimento, o total recolhido no Pólo Industrial de Manaus chega a R$ 24,7 bilhões aos cofres do Estado e da União. Périco entende como de fundamental importância esclarecer e questionar o eleitor mostrando que a ele “compete pautar, divulgar e defender intransigentemente a Zona Franca, senão seu voto cairá no vazio por não representarem de fato escolhas corretas, conscientes e prioritárias sobre a gestão municipal”
Em entrevista a Juscelino Taketomi, do Em Tempo, Nelson Azevedo, economista e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), faz uma análise das funções e deveres que o próximo prefeito eleito deve adotar em relação à ZFM. Azevedo lamenta que “o PIM, a correia de transmissão de mais de 80% da nossa economia, não tenha sido colocado entre as prioridades dos candidatos à Prefeitura. Aliás, tem sido assim, ao longo das campanhas. É como se não fosse importante o extraordinário volume de empregos e de riquezas geradas na Zona Franca de Manaus, afirma.
Os representantes do povo nas Câmaras de Vereadores, Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional, em sua grande maioria não ignoram o grave fato, segundo Azevedo, de que “estamos correndo risco de surpreendentes canetadas, por exemplo, em decorrência da Reforma Tributária, além das perseguições de praxe de estados mais ricos. É preciso que este assunto seja destacado nos debates a fim de gerar consciência e convicções arraigadas sobre a ZFM e o futuro da economia amazonense. Do contrário, argui, quem vai segurar eventuais debandadas de empresas que, constatadas a exiguidade de atratividade fiscal, resolvam aqui fechar suas portas?
Como empresário, afirma Nelson Azevedo, eu me privo de comentários políticos. Como cidadão, porém, não posso me omitir. O voto é a grande arma do cidadão. Nós não temos direito de reclamar dos políticos que não cumprem suas promessas. Nós temos que reclamar de eleitores desavisados, distraídos ou oportunistas. Somos nós que escolhemos o prefeito, o vereador, o deputado, o governador e o presidente da República. Se eles forem bons representantes é porque soubemos usar o poder de nossas escolhas por meio do voto. Se, entretanto, forem um fracasso, os verdadeiros responsáveis somos nós que os elegemos.
Manaus, 23 de novembro de 2020.