A liberdade de imprensa – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Apesar de não ter feito Direito, e mesmo como administrador me socorri de Rui Barbosa em busca de inspiração para a construção de alguma luz jurídica. O grande brasileiro era o luzeiro guia de nossas vidas e para ele me voltava sempre que algum direito estava colocado diante de perigo iminente. De quantos ensinamentos foram bebidos nas páginas imortais do notável tribuno e jurista, nos prélios estudantis e nas lutas pelas liberdades cívicas sempre ressumavam conceitos a respeito da liberdade de imprensa, a “rainha das liberdades”, segundo Thomaz Jefferson, os olhos da nação, por intermédio dos quais ela fica sabendo o que se passa em seu redor, devassa aquilo que lhe ocultam, expõe ao pelourinho do julgamento popular os corruptos e corruptores.


De todas as liberdades, não há nenhuma mais conspícua e mais necessária. Se tais conceitos e definições ganharam foros de verdades definitivas, não menos verdadeiro é que a liberdade de imprensa no mundo vem sofrendo a agressão de aprendizes de tiranos, a pressão dos endinheirados e a intolerância dos liberticidas. Abatem-se sobre ela as mais variadas tentativas de garroteamento, desde a força bruta até os blandiciosos acenos da pecúnia com os quais governos fracos e incompetentes tentam embair a opinião pública.

Se as pressões econômicas e financeiras são desfiguradoras do verdadeiro papel da imprensa livre, não menos verdade é que o engajamento político-ideológico da mídia constitui, nos dias de hoje, espécie de câncer capaz de fragilizá-la até a morte. Nesses estamentos radicais concentra-se o grande perigo a ameaçá-la.

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Consultor.

Tanto à esquerda quanto à direita montam acampamento os verdadeiros inimigos da verdadeira liberdade de imprensa. Ambos se alimentam de preconceitos, nada mais nada menos de velhos ranços autoritários. Por paradoxal que possa parecer, outorgam-se a condição de defensores da liberdade para poder mais facilmente esmagá-la. Não faz parte do cardápio dos tiranetes, quando no exercício do poder, permitir excesso de liberdade de imprensa, salvo quando ela se transforma em turibularia para o cantochão das louvaminhas estereotipadas.

O nosso atual Presidente da República, é um dos que assume o autoritarismo político, culpando sempre a imprensa pelos desmandos e até pelo coronavirus. É o mesmo padrão de prosélitos de José Saramago, para quem “a democracia é uma santa coberta de chagas, cheira mal e, ainda por cima, é surda. E mente quantos dentes tem na boca”. Quando verdadeiros democratas, entendidos aqueles por convicção e formação, não por ocasião ou oportunismo político, são atingidos por verdades no exercício da verdadeira liberdade de imprensa, sua reação é assinalada pela tolerância e a crença na superioridade da verdade.

A democracia, que, no conceito de Saramago, “cheira mal”, foi o remédio simples e nobre que restaurou a dignidade da liberdade que representa todas as outras. A triste constatação de que esse modo autoritário de governar vai, aos poucos, transformando o país numa republiqueta em que valores que deveriam ser tratados como pilares da democracia – a liberdade de imprensa por exemplo – estão sujeitos à variação de humor do mandatário, numa clara submissão do conceito de nação- tantas vezes evocado pelos poucos que tentaram defender o governo -à figura do governante.

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