As ambivalências da Escola e a educação emancipatória

As ambivalências da Escola e a educação emancipatória - Foto: Divulgação

De todas as instituições modernas, a escola representa, ao mesmo tempo, uma das mais estratégicas e ambivalentes. Seria quase impossível pensar na integração e reprodução da vida social sem a mediação do trabalho pedagógico feito nas escolas. Em geral, os indivíduos são submetidos a vários anos de escolarização, mas com que finalidade? Qual seria o escopo da educação que fazemos?


Se pensarmos bem, a escola tanto pode contribuir para a emancipação dos indivíduos, quanto para formar seres adaptados e adaptáveis ao sistema.

Por sistema, me refiro ao conjunto de agentes e instituições da sociedade mercantil, industrial e tecnológica, que, em grande medida, enxergam as pessoas como veículos de crédito (dívidas) e o planeta como uma realidade econômica a ser explorada.

Já no século 19 Max Weber caracterizava essa cultura como um tipo de racionalidade técnica-instrumental capaz de colonizar diferentes esferas da vida social. “Uma gaiola de ferro” que nos aprisiona a todos. Ele também chamou esse processo de desencantamento do mundo.

Assim, podemos dizer que uma educação voltada predominantemente à adaptação dos indivíduos cumpre somente um de seus objetivos, talvez o menos importante: a integração social.

Mas seria essa a única e mais nobre missão da escola?

Para Theodor Adorno, filósofo e sociólogo que participou da Escola de Frankfurt e morreu em 1969, a mais importante missão da escola é contribuir para a emancipação dos indivíduos. Numa acepção ao pensamento do filósofo alemão Immanuel Kant que morreu no ano de 1804, emancipado é um indivíduo que conseguiu sair da menoridade intelectual, que aprendeu a pensar por si mesmo, a se diferenciar da massa, a não sofrer por não fazer parte de algum rebanho. Acrescentando a Adorno, emancipado é aquele ou aquela que aprendeu fazer substância de si mesmo.

Sendo uma testemunha dos horrores do holocausto promovido pela ideologia nazifascista, Adorno apostava alto no poder da escola em promover uma educação emancipadora, capaz de obstaculizar o desenvolvimento e o avanço da barbárie. E o que é a barbárie? Tanto no passado como no presente, barbárie é a objetificação do outro, a destituição de sua humanidade. Na atualidade, quem não é branco, hétero, cristão e homem corre um sério risco de se tornar alvo da xenofobia, e ser objeto de preconceito, marginalização, agressões, e não raro, ser morto. Basta uma consulta as estatísticas envolvendo os segmentos mais vulneráveis da sociedade para confirmar essa afirmação.

Contudo, uma educação verdadeiramente emancipadora precisa voltar-se primeiramente aos seus principais artífices, os professores, e por consequência a todos que integram o fazer da escola, incluindo funcionários administrativos, zeladores, inspetores, seguranças, gestores e pedagogos.

Estando na escola, de modo direto e indireto, todos os trabalhadores que ali atuam acabam influenciando na comunidade escolar de diferentes maneiras. Por ação ou omissão, pelo bom exemplo ou pelas contradições, em maior ou menor grau, essa influência será sentida e irá repercutir no ambiente escolar.

Então cabe a pergunta? Qual tem sido a sua contribuição no processo de uma educação verdadeiramente emancipatória?

Everson Araujo Nauroski é filósofo, cientista social, coordena o curso de Sociologia do Centro Universitário Internacional Uninter e também atua como consultor e palestrante.

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