As drogas estão na esquina – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Matéria de capa do ultimo domingo no Em Tempo “Tráfico nas bocas de Luxo de Manaus”, mostra que ao contrário de lança-perfume, maconha ou cocaína, as drogas do momento não estão nas mãos dos traficantes. Elas podem ser compradas em qualquer esquina, porque os barões do tráfico têm seus representantes.


Recente reportagem em um jornal de S. Paulo denunciou o combustível que está incendiando a juventude paulistana. O gás butano, por exemplo, é encontrado em isqueiros e cornetas vendidas em barracas de camelôs e lojas de brinquedos. Fitas cassete e de vídeo, pilhas e radiografias, artigos aparentemente inofensivos, podem ser o estopim da curtição adolescente. Altamente tóxicas, essas substâncias químicas se tornam drogas perigosas nas mãos dos jovens. Algumas são inaladas ou ingeridas em sua composição original. Como estão contidas em diversos produtos, passam despercebidas e o seu uso consegue driblar a vigilância da polícia. Usamos na sala de aula mesmo. A gente derrama o líquido na manga da blusa e os professores não percebem. A sensação é igual à do lança-perfume, você fica tonto e meio aéreo. Só que o efeito é pior, parece que toma a cabeça, diz Marcos à reportagem do jornal (o nome é fictício), de 16 anos, estudante do 3º ano do ensino médio, que comprava com dois colegas 240 mililitros de cola para acrílico (conhecida como B-25).

Segundo a reportagem, os três vestiam o uniforme de um dos colégios mais tradicionais da cidade, perto da Avenida Paulista. A reportagem confirma os indícios de uma escalada no consumo de drogas no meio estudantil. Xaropes, colírios, anestésicos de uso veterinário, bebidas energéticas, calmantes e anfetaminas consumidos puros ou misturados com bebidas alcoólicas, estão fazendo a cabeça da juventude.

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Consultor.

Segundo especialistas, o efeito a longo prazo é devastador: danos irreversíveis ao cérebro, alterações no comportamento, depressão e morte. Ao buscar o barato nessas substâncias, o usuário entra no atalho para o uso das drogas pesadas. E é aí que o inferno começa. O hediondo mercado das drogas está dizimando a juventude. Ele avança e vai ceifando vidas nos barracos da periferia abandonada de Manaus e no trágico auê dos bares e boates frequentados pela juventude bem-nascida. Movimenta muito dinheiro. Seu poder corruptor anula, na prática, estratégias meramente repressivas. Por isso, a prevenção e a recuperação, únicas armas eficazes a médio e longo prazos, reclamam apoio mais efetivo do governo e da iniciativa privada às instituições sérias e aos grupos de autoajuda que lutam pela reabilitação de dependentes. Tenho acompanhado o excelente trabalho realizado por alguns serviços especializados.

Admirável tem sido a atividade promovida pelos grupos de Narcóticos Anônimos (NA) e Amor-Exigente e a bem-sucedida estratégia adotada pelas comunidades terapêuticas. Sem uso de medicamentos e apostando num conjunto de providências que vão às causas profundas da dependência, essas comunidades têm obtido bons índices de recuperação. Impressionou-me, por exemplo, a seriedade do trabalho desenvolvido pela Comunidade Terapêutica Horto de Deus, em Taquaritinga, no interior de São Paulo. Os internos, tratados com dignidade e carinho, estão lá voluntariamente. Aliás, o desejo explícito de deixar as drogas é um pré-requisito para ingressar na comunidade terapêutica. As internações compulsórias, em clínicas caras e sofisticadas, frequentemente acabam na amargura da recaída.

A Secretaria Nacional Antidrogas está desenvolvendo uma estratégia de qualificação e credenciamento das comunidades terapêuticas. Faz bem. O governo tem o dever de fechar as arapucas, mas, ao mesmo tempo, precisa apoiar e prestigiar as instituições idôneas que estão aí. É preciso apertar, mas sem burocratizar ou inviabilizar. Impõe-se, sobretudo, que a regulamentação do funcionamento dessas instituições não seja o resultado de uma decisão de gabinete. Convém conhecer o dia-a-dia dos centros de recuperação. Só então, com conhecimento direto das coisas, será possível separar o joio do trigo. A escalada das drogas é um fato alarmante. A dependência química não admite decisões autistas. Reclama, sim, seriedade e realismo.

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