As verdades de Cid (Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo(AM)
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Roberto Jefferson denunciou o Mensalão e colocou o PT e importantes representantes do partido no banco dos réus. Terminaram na Papuda, condenados pelo Supremo Tribunal Federal, em julgamento histórico. Agora vem o ex-ministro da Educação, Cid Gomes, e identifica na Câmara Federal a presença de 300 a 400 achacadores, muitos deles investigados pela Polícia Federal como acusados pela prática de vários crimes nos escândalos da Petrobras.
Ambos, tanto Roberto Jefferson quanto Cid Gomes, sempre foram figuras problemáticas. O primeiro andou mergulhado no caso do Mensalão, tanto é que foi igualmente condenado pelo Supremo, enquanto o segundo envolveu-se em muitas trapalhadas quando governador do Ceará, como a famosa viagem que fez à Europa, com a sogra, a mulher, secretários e outros agregados, com recursos pagos pelo erário cearense.


Há também na administração do ex-governador Cid Gomes as contratações milionárias do tenor Plácido Domingos e da cantora Ivete Sangalo, além da orgia de gastos na aquisição de produtos para a despensa do palácio governamental, que incluíram champanhe francesa e caviar russo, num Estado onde a população amarga carências históricas de toda ordem. Circulam em Fortaleza muitas historietas a respeito do próprio, algumas hilariantes ou mesmo folclóricas, que se somam a outras graves e comprometedoras.

Ainda como ministro, foi chamado a se explicar na Câmara Federal sobre a censura moral que fez à instituição parlamentar, na mesma linha das críticas feitas no passado pelo metalúrgico Lula da Silva, ao falar sobre a existência de 300 picaretas no parlamento. Os deputados esperavam um pedido de desculpas, mas Cid Gomes ratificou suas declarações de maneira incisiva. Dirigindo-se ao presidente da casa, Eduardo Cunha, que antes o havia chamado de mal-educado, foi enfático ao destacar sua condição de investigado na Operação Lava Jato, como possível achacador de empresas com negócios com a Petrobras. E, sem nenhuma cerimônia, acusou os partidos da chamada base aliada, especialmente o PMDB, de infidelidade frequente ou traição na apreciação de matérias de interesse do governo, em cima de achaques, como meio de obter vantagens ilícitas. Partido no governo está obrigado a apoiar o governo, assim como oposição é oposição, todos com bônus e ônus respectivos. Do contrário, que tenha a hombridade de largar o osso, ressaltou o ministro já demissionário, com outras palavras.

Ora, independente dos deslizes de Cid, que não é lá flor que se cheire, como diria minha velha mãe, importa é saber se o cearense disse ou não a verdade. Portanto, ao contrário do que pretendem os parlamentares acoimados ou a representação maior da Câmara, não basta ou não adianta procurar desqualificar o autor das acusações, imputando-lhe desvios de conduta já conhecidos. Usaram o mesmo expediente com Roberto Jefferson, na vã tentativa de desmerecer as incriminações levantadas pelo então presidente do PTB, mas quebraram a cara. Relevante é enfrentar a situação real da representação popular, que tem reunido o que há de pior no cenário político nacional, ao longo de suas várias legislaturas e nesta nova fase com o vergonhoso presidencialismo de coalizão. Não foram poucos os escândalos na história recente do parlamento, que implicaram na cassação de muitos de seus membros, alguns com reconhecida notoriedade, com base em fatos criminosos de larga repercussão, que levam hoje a população a considerar o Congresso como a instituição mais desacreditada do país.

Jefferson, embora com os conhecidos arranhões em sua biografia, prestou um grande serviço à Nação. Fez explodir um dos maiores esquemas de corrupção do Brasil, orquestrado pelo PT na Câmara Federal, ao trazer a lume a mercantilização do voto parlamentar, somente agora suplantado pela petrorroubalheira. Detonou uma armação delituosa de consequências imprevisíveis para o futuro da democracia brasileira. Basta imaginar o que não fariam os condenados no processo do Mensalão no comando da República, dentre os quais avulta o nome de José Dirceu, tido e havido como sucessor natural de Lula.

Cid Gomes, com as tinturas do momento, segue a mesma trilha. Intimorato, disse o que o povo brasileiro gostaria de ter dito, em alto e bom som. Enfrentou a tropa, no covil das feras, lá onde muitos transformam a ação política numa relação vergonhosa de balcão. As dificuldades pessoais de Jefferson não inviabilizaram a apuração e a punição dos delinquentes do Mensalão, como as verdades de Cid haverão de prevalecer, precisamente porque traduzem o que o Brasil pensa de sua atual representação política.

O cearense saiu ovacionado da tribuna da Câmara e neste ponto merece o aplauso de toda a sociedade brasileira.(Paulo Figueiredo – advogado, escritor e comentarista político – [email protected]

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