
Bill Gates, fundador da Microsoft, recém-vacinado contra a covid-19, conversa com EL PAÍS sobre a pandemia atual e as futuras, a expansão dos movimentos antivacinas e negacionistas (de direita e de esquerda) nas redes sociais.
O mundo de Gates, não que seja um céu de brigadeiro, mas, num futuro brevíssimo, espera-se, estará de volta à normalidade pós-pandêmica, graças, sobretudo, à vacinação em massa.
Esta perspectiva leva em conta, sobretudo, que a população precisa fazer sua parte. Não adianta cobrar do governo e se entregar tresloucadamente a aglomerações promovidas por pancadões e festas clandestinas outras como se o coronavírus já estivesse dominado.
Como a prudência recomenda: não está, pois só a imunização em massa irá controlar a doença. De igual forma que no passado em relação à peste negra, à gripe espanhola, à NH1N1 e às viroses em geral. Apenas foram controladas com a intervenção fundamental da Ciência.
Extraí do texto completo do jornal as seguintes e fundamentais considerações de Gates a respeito da pandemia.
Pergunta. Há exatamente um ano o novo coronavírus, registrado em Wuhan (China), começou sua rápida expansão pelo mundo. O custo em vidas e a devastação econômica são imensos, mas já temos várias vacinas para combatê-lo. Atreve-se a vaticinar onde estaremos dentro de um ano?
Resposta. Teremos superado em grande medida os efeitos mais dramáticos da pandemia, embora seja possível que o vírus continue circulando por algum lugar do mundo. A questão agora é se seremos capazes de reduzir a cifra [de contágios] a zero, ou se ela se tornará uma doença endêmica e teremos que continuar vacinando em um nível mais ou menos alto de maneira continuada. Não sabemos ainda. O ideal seria conseguir que o vírus não se espalhe entre humanos. De resto, as lojas voltarão a abrir, retornarão os eventos públicos, desde que pelo menos 70% da população esteja vacinada. Mas, sim, neste próximo verão [do Hemisfério Norte] as coisas voltarão em grande medida à normalidade. E, em 2022, países como a Espanha e os Estados Unidos já a terão recuperado quase totalmente e poderão realizar grandes atos públicos.
- Até que ponto lhe preocupam as novas variantes ou mutações do coronavírus, e em que medida elas podem alterar seu prognóstico?
- À medida que surjam novas variantes é possível que precisemos modificar as vacinas para obter uma maior eficácia. O que a variante faz é reduzir significativamente a eficácia dos anticorpos monoclonais, nos quais confiávamos para reduzir a taxa de mortalidade paralelamente ao avanço das campanhas de vacinação. Infelizmente, essa ferramenta terapêutica não será tão valiosa como se esperava. Entretanto, as vacinas das quais dispomos, como a da Pfizer e da Moderna, são tão poderosas que seus efeitos são muito eficazes. Ainda não estamos muito certos de que seja preciso modificá-las, mas estamos investigando por via das dúvidas. Levaríamos uns três meses para fazer os testes de segurança e fabricá-las.
- Já se vacinou?
- Sim. Me injetaram a primeira dose da vacina da Moderna há alguns dias na Califórnia, onde já estão sendo imunizados os maiores de 65 anos.
15 de fevereiro de 2021.