Braga, vícios e contradições – Por Paulo Figueiredo

Advogado Paulo Figueiredo (AM)

Em discurso de candidato, Eduardo Braga já escolheu o inimigo maior. Trata-se do ex-governador José Melo, visto em convenção milionária como alvo maior de seus ataques e diatribes, cujo mandato foi cassado em decisão do Tribunal Superior Eleitoral – TSE.


Melo, que anda recolhido e distante, mergulhado no ostracismo, a tal ponto que ninguém dele sequer tem lembrança, foi chamado por Braga de ladrão e de Zé Merenda. Uma agressão inominável, notadamente quando oriunda de quem sempre teve José Melo como homem e político de sua mais absoluta intimidade e confiança. Não custa lembrar que Melo foi secretário de Governo e assessor pessoal de Braga, grande responsável pela coordenação política do interior, durante todo o tempo em que o atual senador governou o Amazonas. Além do mais foi Braga quem fez José Melo vice-governador de Omar Aziz, em função do que terminaria governador reeleito.

Advogado Paulo Figueiredo (AM)

Agora, com Melo em desgraça, é muito fácil e mesmo conveniente deitar sobre o antigo amigo e auxiliar as mais duras e torpes acusações. Evidente que não estou aqui para fazer a defesa de Melo, porquanto cabe a ele responder pelos crimes apontados por Braga, verdadeiros ou hipotéticos. No entanto, não há como deixar de destacar as contradições presentes no sermão do candidato, uma vez que Melo pode muito bem ser apresentado como obra do então governador Eduardo Braga, de sua exclusiva criação. Assim, como resta evidente, todos os candidatos podem criticar a gestão de Melo, em maior ou menor intensidade, menos Braga.

A propósito, falando em sermão, Braga também se apresenta ao povo como messias, eleito e predestinado, a quem caberá salvar o Amazonas do infortúnio e da crise de graves proporções que envolve o Estado. Sem nenhuma cerimônia, revela-se de igual modo senhor da ética e da moralidade pública, independente de sua condição de investigado pela Lava-Jato. Com base em fatos, procedentes ou falsos, em fase de investigação, é arrolado em delações premiadas de executivos e ex-dirigentes da JBS, Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez. Ainda que a sabedoria popular diga q ue onde há fumaça há fogo, cabe conceder-lhe o benefício da dúvida, no mínimo, como o faço neste momento. Mesmo assim, haverá de enfrentar a opinião pública e seus adversários ao longo da campanha eleitoral, em situação bastante desconfortável.

Já se vendo como redentor, Braga invoca o nome de Deus numa sucessão de apelos à divindade, em vão ou não, mas sempre com incômoda falta de pudor. Sem o menor acanhamento, disse que andava pelos bairros e via o povo sofrendo, quando prefeito, para então declarar-se “instrumento da vontade dele (Deus)”, a fim de fazer o Prosamim, projeto mal concebido, fonte de degradação urbana e ambiental progressiva, um desastre. É aconselhável, sob todos os aspectos, que Braga deixe Deus fora da disputa, uma vez que o Senhor já se mostra cansado de tanta demagogia e de tantas iniquidades cometidas em s eu Santo Nome.

Fala reiteradamente em esculhambação, termo nas circunstâncias inapropriado e de origem chula. Na verdade, esquece-se que a confusão ou desordem pode muito bem ser observada na escolha de seu vice, o advogado Marcelo Ramos, embora Braga reconheça que há muita identidade ou semelhança entre eles, ainda que tenham estado em campos opostos. E é Braga quem diz expressamente na convenção de sua coligação: “Nós, eu e o Marcelo, somos diferentes, mas estamos unidos, pensamos iguais”, isto é, ambos tem o mesmo entendimento sofre fatos e pessoas. Bem, a diferença é óbvia, po rque nem os gêmeos são tão iguais como parecem, conquanto na concepção Braga e Ramos estejam agora nivelados por inteiro.

Em passado recente, Ramos mandava Braga se ajoelhar sobre o milho, a fim de expiar muitos de seus vícios e pecados. Coisas da política, dirão. Por essas e por outras é que a descrença popular avoluma-se a cada eleição.(Paulo Figueiredo é Advogado, Escritor e Comentarista Polí[email protected])

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