Brasil pode se aproximar da letalidade dos EUA

Massacre feito por Grandolpho levanta questões sobre arma de fogo - Foto: Divulgação

O massacre feito pelo analista de sistema Euler Fernandes Grandolpho na Catedral Metropolitana de Campinas, a 100 km de São Paulo, onde cinco pessoas morreram e quatro ficaram feridos, reacende o debate proposto sobre a ampliação do porte da posse de armas de fogo. Especialistas ouvidos pelo R7 apontam que os recentes e frequentes ataques podem aproximar o Brasil da realidade dos Estados Unidos.


Logo após a missa das 12h, Grandolpho disparou contra o grupo que estava atrás dele na igreja. Com a correria, atirou nas pessoas em sua frente e, depois, com a entrada de policiais no local, se suicidou. Naquele momento, as pessoas que estavam na praça da catedral nunca tinham visto tanto sangue derramado em um local sagrado. Entre os mortos estão Cristopher Gonçalves dos Santos, 38, Sidnei Vitor Monteiro, 39, Eupidio Alves Coutinho, 67, José Eudes Gonzaga, 68, e Heleno Severo Alves, 84. Outras três pessoas ficaram feridas e foram encaminhados a hospitais.

Policiais militares encontraram Grandolpho em posse de duas armas de fogo – uma pistola 9 mm e um revólver 38, ambas com numeração raspada, o que pode indicar ilegalidade. Assim sendo, a discussão que se tem agora é a natureza do tiroteio e a ampliação do porte da posse de armas. Segundo a diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, a ideia de que o cidadão vai se proteger ou se sentir protegido com uma arma é falaciosa, ainda mais quando se tem uma sociedade que apresenta altos índices de criminalidade como o Brasil. Ela explica que 70% dos policiais assassinados morrem fora do horário de serviço e questiona: “se os PMs, que já são treinados, morrem dessa forma, imagina os civis?”

Massacre feito por Grandolpho levanta questões sobre arma de fogo – Foto: Divulgação

O professor de psiquiatria na UFF (Universidade Federal Fluminense) e associado a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) Alexandre Valença vai além. A percepção de poder que se tem quando se segura uma arma pode existir, no entanto, nas mentes de pessoas que apresentam traços de personalidade complicada, é só mais um gatilho de encorajamento para que elas possam cometer ataques e, consequentemente, elevar o número de mortes. Ele explica que o nível de angústia dessas pessoas é muito alto e, em alguns casos, são acompanhados de depressão ou psicose. “Chega um momento que passa a ser tão insuportável que ela (pessoa) precisa se livrar daquilo. Ela pensa que cometendo a matança o problema será resolvido”, conta.

A tese também é defendida pela coordenadora do Instituto Sou da Paz Carolina Ricardo, que diz que uma arma facilita muito mais o acesso da perda da consciência, o rompante, tornando letal aquele determinado momento. “Precisamos verificar qual a maneira que isso ocorre e como se relaciona com a legitimidade das armas de fogo no país”, pondera. “Nos EUA, a flexibilização excessiva gera muito mais massacres.”

De acordo com a Everytown for Gun Safety, organização que busca controle de armas no país norte-americano, houve 173 tiroteios em oito anos. O ano de 2017 teve o maior número de tiroteios registrados. A empresa informa, ainda, que em metade dos casos o atirador exibiu sinais de alerta indicando que eles representavam perigo para eles mesmos ou para os outros.

No Brasil, as armas são compradas legalmente por forças de segurança ou por indivíduos com porte de armas. Porém, muitas armas são desviadas ou roubadas e vendidas ilegalmente. O aumento dessas vendas é preocupante na visão de Ricardo, do Sou da Paz — o instituto informa que, em 2004, três mil licenças foram concedidas para aqueles que pediram para ter arma em casa. Já no último ano, esse número saltou para 33 mil.

Psique humana

Valença esclarece que os atiradores geralmente possuem personalidade complicada, o que é configurado por um descontrole de impulsos, estilo de relacionamento com outros, entre outras coisas. Na cabeça dessas pessoas, o sentimento é o mesmo: procurar o alívio.

Grandolpho e outros, como o adolescente de 14 anos que atirou e matou dois colegas em um colégio particular de Goiânia e o homem que se suicidou após matar a ex-mulher, o filho e mais dez pessoas durante a noite de Réveillon em Campinas, possuem personalidade complicada. Sofrem de depressão, são vítimas de bullying e vivem com ódio, respectivamente. “O que pode acontecer nesses casos é o planejamento de alguma coisa que termine com o seu sofrimento”, diz. “Têm angústia nos dias que antecedem, mas depois se sentem aliviadas, livres de julgamentos”.

No entanto, na maioria das vezes o autor dos disparos comete suicídio. O professor explica que é fruto do receio das implicações legais. “A pessoa será acusada de diversos crimes, será julgada pela sociedade e nunca mais será vista com bons olhos. Para acabar com isso também, ela acaba tirando a própria morte”.

Fonte: Notícias ao Minuto

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